A SENSAÇÃO DE “JÁ VI ESTE FILME ANTES” QUE “CAPITÃO AMÉRICA – GUERRA CIVIL” NOS DÁ.

Por Celso Sabadin.

Fui acometido de uma grande sensação de “deja vu” ao assistir “Capitão América – Guerra Civil”. Fui acometido de uma grande sensação de “deja vu” ao assistir “Capitão América – Guerra Civil”. Eu sei que eu já disse isso, mas é que o “deja vu” foi muito grande.

O novo evento mercadológico da Marvel/Disney, travestido de filme, me passou a sensação de ser um grande caldeirão de pedaços de roteiros já vistos e revistos em outras ocasiões. Fica-se com a impressão que os roteiristas Christopher Markus e Stephen McFeely, os mesmos dos dois primeiros episódios  de “Capitão América”, receberam a encomenda que os Vingadores teriam de brigar entre si. E que os motivos pelos quais isso aconteceria não precisaria ser muito importante, nem muito original. Bastava a briga.

O mote de que o rastro de destruição involuntária causado pelos heróis invariavelmente acabava sendo mais danoso que os próprio benefícios obtidos na luta pela paz e pela justiça é bem parecido com o que provocou o banimento dos protagonistas da animação “Os Incríveis”. Os mutantes de X-Men também já passaram por isso. E, agorinha há pouco, coisa parecida também já aconteceu com Batman e Superman. Puxando pela memória, há até um episódio de “As Meninas Superpoderosas” (cujo nome agora foi globalizado pelo seu título original “The Powerpuff Girls”) sobre o tema. Relevando este pequeno detalhe (afinal, o que é um mote original?), outros “deja vus” vão se acumulando, incluindo a motivação sentimental-familiar-vingativa do vilão, igual a todo bom e velho faroeste dos anos 40.  E o que dizer do governo norte-americano querer controlar o incontrolável poder de liberdade dos heróis? E que tal uma dose de assassinos que matam porque suas mentes estão controladas pelo Mal? Até o ator Sebastian Stan, que interpreta o Soldado Invernal, disse, em entrevista, que seu personagem tem muito de Jason Bourne. Na verdade, “Guerra Civil” tem muito de muito dos outros, o que significa bem pouco de si mesmo. Até o que poderia ser uma das melhores surpresas do filme – a aparição do Homem Aranha – foi estragado pelo departamento de divulgação da Disney, que colocou a melhor cena no trailer e fez um estardalhaço sobre isso. Tudo em nome da venda antecipada.

Os puristas podem argumentar que o roteiro não poderia fugir da premissa dos quadrinhos originais, o que todos sabemos ser uma inverdade. Nada mais comum nos filmes sobre HQs do que roteiros que fogem das premissas originais dos quadrinhos que os inspiraram.

Com argumento pífio, menos humor, e menos carisma dos personagens, “Capitão América – Guerra Civil” cai no mesmo erro de boa parte dos filmes do gênero: ele acaba se transformando apenas numa plataforma de lançamento de novos personagens, heróis que entram na trama com a finalidade principal de obter a exposição necessária para a venda de bonecos, camisetas, lancheiras, copos, combos, brinquedos e outros inúmeros itens de licenciamento que, desde a época de George Lucas, rendem financeiramente muito mais que a própria bilheteria dos filmes. Ou seja, vai ser uma baita sucesso.

Enquanto os estúdios continuarem a transformar seus filmes em mera vitrine de lançamento de produtos, todos nós, cinéfilos que gostam mais de cinema que de pipoca, continuaremos perdendo.