“A SERPENTE” BUSCA O SUFOCAMENTO RODRIGUEANO.

Por Celso Sabadin.

“A Serpente” é uma obra icônica: ela foi a primeira peça teatral escrita pelo grande dramaturgo Nelson Rodrigues, e a última a ser publicada, em 1978, dois anos antes de sua morte. O tema, como sempre, é a hipocrisia da classe média, principalmente quando cristalizada em sórdidas relações familiares.

Nesta adaptação cinematográfica realizada em 2016 e que chega agora ao circuito cinematográfico, as personagens centrais são vividas por Matheus Nachtergaele (Paulo) e Lucélia Santos (as gêmeas Guida e Lígia), que se envolvem uma trama de amor, ciúme e tragédia quando uma das irmãs decide emprestar o própria marido para a sua gêmea que, casada, permanece virgem.

A direção e o roteiro do recifense Jura Capela são viscerais. Fiel à  matriz da obra, a linguagem teatral, que prioriza as ênfases interpretativas, é mantida nesta adaptação para a tela que, por outro lado, procura no preto e branco alguma identificação com a estética noir. O resultado alcança o peso do tema proposto, fazendo de “A Serpente” um filme coerente com a sensação de sufocamento e desespero sempre presente nos textos de Nelson.

Além de cineasta, Capela é videoartista e fotógrafo. Dirigiu o curta-metragem Copo de leite (2005) e o codirigiu o média-metragem Schenberguianas (2005) em parceria com Sérgio Oliveira. Integrou vários grupos artísticos tais como Canal 03 (1996) e o coletivo Telephone Colorido com o qual codirigiu o curta-metragem Resgate Cultural – O filme (2001). Seu primeiro longa foi Paranã-Puca – Onde o mar se arrebenta (2010), vencedor do troféu Redentor de melhor filme no Festival do Rio na categoria Novos Rumos.

“A Serpente” ganhou o Prêmio do Júri no Festival de Cinema Luso Brasileiro de Santa Maria da Feira, em Portugal.