A SILENCIOSA DOR DA VIDA NO BELO “INVISÍVEL”.

Por Celso Sabadin.

Seis anos depois do premiado e elogiado “Las Acácias”, o diretor argentino Pablo Giorgelli retorna às telas com o drama intimista “Invisível”. A protagonista é Ely (Mora Arenillas), garota que divide seu tempo entre ir à escola, trabalhar num pet shop, cuidar da mãe deprimida, e transar às escondidas com o filho do patrão.

Numa primeira mirada, pode parecer apenas mais um daqueles filmes existencialistas que seguem as fórmulas internacionais (principalmente francesas) para ganhar prestigiados festivais de cinema. Com direito a narrativa naturalista, problematização do ser humano comum, longos e silenciosos planos, generosos closes do protagonista, final em aberto e quase nada de trilha sonora. Como gostam os júris e gostamos os críticos. Pode até ser, mas é inegável que “Invisível” tem méritos adicionais. A começar pelas sutilezas da direção.

Giorgelli capta com profundidade e dor o vazio do cotidiano da garota. No ambiente escolar, professores impessoais (jamais mostrados) recitam assuntos e matérias distantes anos luz do interesse de qualquer jovem. Em casa, sons genéricos e indiferentes de uma televisão eternamente sintonizada no nada substituem qualquer diálogo que Ely possa ter com a mãe, evidenciando ainda mais o abismo entre ambas. E o sexo, para a garota, é secreto e praticado na frieza do banco de trás de um carro qualquer, numa rua qualquer. Provavelmente com um homem, para ela, qualquer.

Em pequena doses, o filme nos brinda com tímidos mas pungentes comentários cinematográficos, como uma criança chorando num balouçante vagão do metrô numa cena de significado especial para Ely; ou o reflexo no vidro de um galho seco, sem vida, que encobre o rosto da garota exatamente num momento seco onde se discute a própria vida.

São detalhes que fazem a diferença num roteiro onde o primeiro plano – a discussão da questão do aborto – acaba se mostrando até menos intenso que a própria construção deste belo filme que tem coprodução com o Brasil.

Selecionado para a competição oficial do Festival de Veneza, “Invisível” estreia no Brasil em 9 de novembro.