A SIMPLICIDADE DESPRETENSIOSA DE “A CÂMERA DE CLAIRE”.

Por Celso Sabadin.

Uma simples jornada de pequenos encontros e desencontros durante a realização de um festival de Cannes pode render um pequeno, belo e singelo filme sobre relacionamentos humanos. Principalmente se o diretor for o sensível Hong Sang-soo, o mesmo de “O Dia Depois” e “Na Praia à Noite Sozinha”.

Minimalista como sempre, Hong constrói “A Câmera de Claire” a partir do encontro entre a turista francesa Claire (Isabelle Huppert) e a jovem sul-coreana Manhee (Kim Minhee, atriz recorrente na obra do diretor).

Claire é uma simpática professora que tem a fotografia como hobby, enquanto Manhee é uma produtora de cinema que, ainda indignada, não compreende porque acabou de ser demitida. De alguma maneira, os sonhos e frustrações destas duas personagens se entrelaçam pelas esquinas da mágica cidade de Cannes, fazendo com que ambas iniciem uma improvável amizade. Um relacionamento que dificilmente teria início não fosse pelo desprendimento típico de quem está desenraizado de sua base, vivendo – nem que seja por pouco tempo – os caminhos imponderáveis que uma viagem geralmente traz. Principalmente a quem a eles se mostra aberto.

Com habilidade, Hong tece a sua teia de relacionamentos entre as protagonistas, da mesma maneira que Claire usa a sua arte involuntária – a fotografia – como elemento de união, tolerância e entendimento. Talvez nem ela própria tenha a consciência que sua câmera exerce a mesma função de uma varinha mágica conciliadora nas mãos de uma pequena fada do bem.

Deliciosamente despretensioso,  “A Câmera de Claire” estreia em 24 de maio.