A SIMPLICIDADE HUMANISTA DE “EM UM PÁTIO DE PARIS”.

por Celso Sabadin.

É o bom e velho clássico humanista: dois personagens cada um com as suas perturbações, uma amizade que nasce como identificação de carências, um mundo particular que surge entre ambos. Do lado de fora, uma sociedade quase sempre incapaz de perceber o que acontece sob seus próprios narizes. Fórmula pronta? Certamente. Mas nada contra um clichezinho aqui outro ali, desde que bem realizados, como no caso deste “Em um Pátio de Paris”.

Os protagonistas são Antoine (Gustave Kervern, ótimo, num de seus primeiros papéis principais), e Mathilde (Catherine Deneuve, que dispensa apresentações). Ele, um músico à beira de um ataque de nervos que abandona tudo em troca da solidão e da simplicidade de um emprego de zelador. Desde que não seja necessário pensar. Ela, uma mulher obcecada por uma rachadura em seu apartamento, que acredita que tudo possa desmoronar a qualquer instante. Inclusive sua própria vida. Entre este homem que só deseja a invisibilidade e esta mulher que faz tudo por uma causa social que crê verdadeira nasce uma improvável amizade emoldurada pelas janelas de um antigo e charmoso edifício parisiense com direito a um pátio central onde tudo acontece.

Talvez falte um pouco de criatividade no roteiro. Talvez um pouco de capricho na direção do tunisiano Pierre Salvadori. Talvez um pouco de destreza no desenvolvimento dos personagens secundários. Mas são pequenos “senões” que não tiram de “Em Um Pátio em Paris” o mérito de ser uma diversão emotiva e digna, engrandecida por duas ótimas interpretações.