“A TARTARUGA VERMELHA”, UM FILME SEM PALAVRAS QUE ME DEIXOU IDEM.

 Por Celso Sabadin.

Por ocasião do lançamento de !”Wall-E” algumas pessoas (não foram poucas) me disseram que não iriam ver o filme porque ficaram sabendo que não havia diálogos nos primeiros 15 minutos. Eu, como fã de filmes mudos e apreciador de um cinema que se comunica mais por imagens que por palavras, fiquei sem entender direito o motivo de tamanho preconceito. Talvez esta necessidade urbano-frenética-contemporânea que muita gente tem de verbalizar tudo, a qualquer momento, sobre todos os assuntos, e sempre, esteja causando esta ojeriza ao silêncio. É uma pena, pois que não viu  “Wall-E” por causa dos 15 minutos sem diálogo (que são geniais) perdeu um belo filme. E com certeza vai perder o belíssimo “A Tartaruga Vermelha”, que traz nada menos que 80 minutos sem palavra alguma.

E porque esta animação coproduzida por Japão, França e Bélgica é tão calada? Simples: porque a sensibilidade do filme do holandês Michaël Dudok de Wit (vencedor do Oscar de curta de animação em 2001 com o também sem palavras “Father and Daughter”) não está no verbo, mas num tipo de narrativa imagética onde falar seria irritantemente redundante. Tudo começa quando um náufrago vai parar numa ilha deserta. Não há com quem falar. Ele constrói uma jangada para tentar sair de lá, mas é impedido por uma grande tartaruga. E tá bom por aí, pois o filme tem momentos memoráveis, com cenas caprichosamente construídas com muito talento e habilidade, e que são devidamente estragadas em mais um trailer irresponsável que faz o favor de cometer inúmeros spoilers.

Se num primeiro momento da animação a solidão é a personagem principal e a fala é totalmente desnecessária, quando esta condição se rompe o dizer já não é desejado. Já nos acostumamos a perceber com a audição apenas o magnífico trabalho de ambientação sonora e musical, onde a verbalização de qualquer sentimento seria de uma pequenez gritante diante da beleza das imagens. Já entramos na história, no mundo e na vida deste náufrago sem nome que vai transformar sua ilha num microcosmo da própria condição humana, bela, intensa e finita.

Comprovando mais uma vez que o cinema, em seu estado mais puro, é a grande linguagem internacional da humanidade, “A Tartaruga Vermelha” estreou nesta última quinta, dia 16/02.