“A TRAVESSIA”: FINALMENTE UM 3D QUE FUNCIONA. MAS É SÓ.

Por Celso Sabadin.

Parece ser algo cíclico no Cinema: aos ganhos tecnológicos correspondem perdas dramatúrgicas. Foi assim quando os filmes deixaram de ser mudos e tornaram-se falados, quando houve a explosão dos efeitos computadorizados, e agora com o 3D. “A Travessia” é um bom exemplo deste processo: pensaram tanto no melhor aproveitamento do 3D como ferramenta realmente inserida na trama que esqueceram da linguagem cinematográfica.

Explico: o mote do filme é ótimo (a história real de Philippe Petit, o jovem malabarista francês que andou na corda bamba entre as duas torres do World Trade Center), a produção é de encher os olhos, a direção é de ninguém menos que Robert Zemeckis (de “Náufrago”, “De Volta para o Futuro”, etc), mas o roteiro (baseado no livro “To Reach the Clouds”, do próprio Petit) é de uma mesmice que beira o desastroso. O filme é quase uma áudio descrição dos acontecimentos, redundante e irritantemente narrado em off, e ainda por cima conduzido pelo protagonista que se dirige diretamente à plateia como se estivesse apresentando o seu próprio show para um especial de TV. Sempre que a narrativa engrena e nos coloca efetivamente dentro da trama, vem a quebra: o filme para, surge  o protagonista para “explicar”a história (caso alguém não entenda, talvez?), e entra a insistente e desnecessária narração em off que nada tem a ver com um bom produto audiovisual. É anticlímax em cima de anticlímax durante 120 minutos.

Pelo menos aqui, diferente de 99% dos filmes recentes, o 3D funciona, e tem de fato função na história, contribuindo bastante para a criação do clima de suspense e “frio na barriga” nos 15 minutos finais, quando a prometida travessia do título finalmente acontece.  O restante é uma aula de roteiro…. para um programa de rádio.