“A VERDADE”: KOREEDA VAI À FRANÇA.

Por Celso Sabadin.

Quando fiquei sabendo que já estava disponível um novo filme de Hirokazu Koreeda, um dos meus diretores favoritos, me tomei de entusiasmo. Quando fiquei sabendo que “A Verdade”, seu novo trabalho, era falado em francês, com elenco igualmente francês, desanimei. Me senti naquele meme do Chico Buarque rindo e sério.

Não que eu não aprecie filmes franceses – muito pelo contrário – mas fico com dois pés atrás quando um cineasta que eu gosto muito abandona – mesmo que momentaneamente – a cultura de seu país para realizar algo em algum mercado que não seja o dele. Geralmente não dá muito certo.

Como de fato não deu. Não que “A Verdade” seja ruim, ou decepcionante, mas está longe de ser um Koreeda daqueles transbordantes de sentimentos e paixões, como ele costuma fazer muito bem. O próprio roteiro, escrito pelo diretor, tem sabor de dejà vu: ao publicar sua autobiografia, a atriz veterana Fabienne (Catherine Deneuve) causa repulsa e indignação em sua filha Lumir (Juliette Binoche), que só vê inverdades no livro, o que abre ainda mais o abismo de relacionamento que sempre existiu entre ambas. Não falta sequer o contraponto cultural norte-americano, aqui representado no personagem do marido de Lumir (Ethan Hawke).

Não apenas é um mote já bastante explorado pelo cinema, como a própria Deneuve repete quase que integralmente seu personagem no recente (2018) “A Última Loucura de Claire Darling”. Até a casa parece a mesma.

Há, porém, uma grande ideia dentro de “A Verdade”: o filme dentro do filme em que Fabienne está envolvida – “A História da Minha Mãe”- é uma ficção científica sobre uma mulher que só consegue sobreviver dentro de uma nave espacial. Ao isolar-se fora da Terra, ela jamais envelhece, mas vê os próprios filhos envelheceram cada vez que retorna ao planeta para visitá-los, o que acontece a cada sete anos. Tal narrativa é do escritor chinês radicado nos Estados Unidos Ken Liu, que também assina como produtor associado de “A Verdade”.

Deu vontade de vê-la, algum dia, transformada em longa. Se possível, dirigido pelo próprio Koreeda.