“A VERDADE NUA E CRUA”, PARA QUEM DETESTA SURPRESAS.

Certa vez perguntei ao maestro Diogo Pacheco por que a maioria das pessoas, quando ouve música clássica, prefere ouvir sempre as mesmas. Sempre as Quatro Estações de Vivaldi, a nova Sinfonia de Beethoven, as árias de Carmen de Bizet, enfim, sempre a mesma meia dúzia de peças eruditas, dentro de um universo tão rico e gigantesco. A resposta do maestro foi rápida, simpática, elucidativa e inteligente: “Porque quando você anda pela Avenida Paulista, junto com uma multidão de desconhecidos, como é bom, de repente, rever um amigo!”

Acredito que o mesmo raciocínio possa valer para os filmes. A maioria das pessoas, de uma forma geral, gosta de ver sempre os mesmos filmes. Não literalmente – os mesmos – mas filmes bastante parecidos com tudo aquilo que já foi visto antes. Talvez isso dê alguma sensação de segurança ao espectador, que sabe que não será surpreendido, e que será agradavelmente conduzido por caminhos já previa e fartamente conhecidos. Algo parecido com o comportamento daquele tipo de consumidor que vai sempre ao mesmo restaurante, procura o mesmo garçom e pede o mesmo prato.

Apenas este comportamento de (boa?) parte dos consumidores pode explicar que continuem sendo produzidas comédias românticas como “A Verdade Nua e Crua”, um filme milimétrica e sonolentamente igual a tudo aquilo que já foi feito antes no gênero. A trama fala de Abby (Katherine Heigl), a bela produtora de um programa matutino de televisão que, embora profissionalmente bem sucedida, vive em busca de um príncipe encantado. Até o dia em que ela conhece Mike (Gerard Butler, de “300”), apresentador de TV que, ao vivo, passa para os seus espectadores as mais machistas e cafajestes dicas sobre relacionamentos amorosos e sexuais. Impressionante: eles vão se apaixonar! Nossa, quem poderia prever? E, acredite se quiser: até o final do filme, cada um dos protagonistas vai abandonar seus radicalismos, virarão pessoas melhores, e serão felizes para sempre.

Quem vai sempre ao mesmo restaurante, procura o mesmo garçom e pede o mesmo prato provavelmente vai gostar.