“A VERDADE SOBRE O CASO DEVENTER” CRITICA A SOCIEDADE DO ESPETÁCULO.

Por Celso Sabadin.

Em muitas oportunidades, sabemos que os tais filmes “baseados em casos reais” são apenas isso mesmo: baseados… quando não “levemente” ou “livremente” inspirados. Às vezes, do tal caso real acaba sobrando muito pouco, quase nada. Não parece ser o que acontece em “A Verdade Sobre o Caso Deventer”, disponível em www.cinemavirtual.com.br . O letreiro original, pelo menos, oferece segurança, ao afirmar que todas as informações do filme foram retiradas dos autos do verdadeiro processo judicial, e de informações provenientes do jornalismo investigativo que se desenvolveu sobre o caso.

Mas qual seria, afinal, este tal caso Deventer?

Trata-se do assassinato de uma viúva rica, na Holanda, em 1999. Tudo indica que o crime foi cometido por Louwes (Mark Kraan), que é julgado e preso. Porém, inconsistências jurídicas no processo reabrem o caso, libertando o acusado até um segundo julgamento. O jornalista investigativo Bas Haan (Fedja van Huêt) se interessa pelo assunto e se aprofunda nos detalhes, acreditando na inocência de Louwes. Como não poderia deixar de ser, o caso ganha proporções nacionais, dominando o noticiário holandês.

Tudo se complica ainda mais quando surge a estranha presença de Maurice de Hond, um blogueiro que inicia um estardalhaço midiático afirmando, com toda a segurança, que o verdadeiro assassino é Yorick (Michael de Jong), o encanador da vítima. Maurice não tem provas, mas tem convicções. Os produtores do filme optaram por não contratar um ator para interpretar Maurice, preferindo usar imagens reais de arquivo para suas aparições.

O fato é que as novas informações sobre o caso desestruturam tanto o novo julgamento quanto as investigações de Bas, que não medirá esforços para chegar à verdade. Ou, pelo menos, tentar.

Envolvente e intrigante, um dos pontos mais interessantes de “A Verdade Sobre o Caso Deventer”, ao contrário do que se poderia supor, não é exatamente definir quem é ou deixa de ser o culpado. O filme vai além: aqui, interessa a investigação do processo midiático, os jogos de cena, os limites – cada vez mais sórdidos – do que um candidato à fama está disposto a fazer. A boa e velha “sociedade do espetáculo”.

Cinematograficamente falando, trata-se de uma obra ao mesmo tempo vibrante e sóbria, sem as repetitivas concessões comerciais que a produção audiovisual predominante costuma fazer. Em determinados momentos, arrefece o ritmo, mas logo o retoma em sua tentativa de esmiuçar um caso que se arrastou por praticamente 10 anos.

O roteiro de Sander Burger, também diretor do filme, e de Bert Bouma foi baseado no livro do jornalista Bas Haan, que destrincha o caso.  O longa está disponível em www.cinemavirtual.com.br