“A VIAGEM DE ERNESTO E CELESTINE” CONTRA A MESMICE DE UMA NOTA SÓ.

Por Celso Sabadin.

Publicados pela primeira vez em 1981, no livro que leva exatamente os seus nomes, Ernest e Céléstine são dois personagens extremamente carismáticos criados e desenhados pela autora belga Gabrielle Vincent (1928-2000). Ernest, um urso grandalhão, e Céléstine, uma pequena e animadíssima ratinha, ganham a vida fazendo apresentações e performances musicais em praças públicas.

Além de livros infantis, os personagens também já foram adaptados para o cinema em 2012 e 2022, e para a televisão, em 2017.

Aqui do lado de baixo do equador, em nossa colônia cultural dependente da produção estadunidense, poucos os conhecem, o que é uma pena. Mas ainda dá tempo: estreia nos cinemas brasileiros nesta quinta-feira, 8/02, “A Viagem de Ernesto e Celestine”, a coprodução Franco-luxemburguesa (ou seria luxemburgense?) lançada na Europa em 2022.

A história começa quando termina o inverno, e Ernesto acorda de sua longa hibernação. A primeira providência a ser tomada é reabastecer a casa com comida, mas tanto ele quando Celestine estão sem dinheiro. As dificuldades acabam levando o par de aventureiros ao reino de Charabie, terra natal de Ernesto, onde um antigo segredo familiar aguarda os protagonistas. Além de muitas aventuras, claro.

Além do delicioso carisma emanado pelos personagens, “A Viagem de Ernesto e Celestine” apresenta uma concepção gráfica de alta qualidade que evoca antigos clássicos da ilustração infantil, ao mesmo tempo em que seu roteiro imprime um ritmo dos mais atrativos e intensos, sem cair na correria superficial. Sóbria, a paleta de cores pasteis é um encanto à parte.

Tudo isso embalado pela importante luta contra a tirania e a ignorância, numa trama na qual os heróis combatem um país cujos governantes decretaram que todas as músicas ali tocadas só poderiam ter uma única nota: a dó. Um significativo sinal da mesmice dos nossos tempos.

Os responsáveis por transformar a linguagem dos livros em filme foram os diretores Julien Chheng e Jean-Christophe Roger, que optaram pela magia da tradicional animação em 2D. ”Reinventamos o desenho, imagem por imagem, para colocá-lo a serviço de uma emoção”, conclui Chheng.

Uma ótima alternativa ao estilo atualmente engessado da Disney/Pixar.