A VIAGEM DE “O TOURO” PELO QUE RESTA DE UM BRASIL AUTÊNTICO.  

Por Celso Sabadin.

A jovem portuguesa Joana de Verona vai à região dos lençóis maranhenses investigar a lenda do rei português Dom Sebastião, uma espécie de entidade mítica que teria morrido numa guerra em Marrocos, mas reaparecido no Brasil, dando origem às lendas relacionadas às festas do bumba meu boi.

Em sua pesquisa, Joana mergulha no cotidiano quase medieval dos habitantes locais, participando da suas vidas, tomando contato com seus costumes e crenças, ao mesmo tempo em que conduz o filme por uma encantadora viagem através do pouco que resta de uma cultura ainda autêntica em nossas terras. Dentro do possível, claro.

A viagem de “O Touro” se empreende não só pelo espaço como também pelo tempo. A presença da europeia branca tentando compreender os costumes locais, tropeçando nas dificuldades dos idiomas, circulando às vezes meio perdida por entre os habitantes pardos e afetuosos da região, não raro nos remete ao que poderia ter sido o encontro da esquadra de Cabral com os índios brasileiros, há mais de 500 anos. Um momento em especial chama a atenção, quando um dos habitantes de Lençóis faz questão de presentear Joana com colar de contas que garantirá proteção à moça. A alegria do rapaz em presentear, em explicar seus costumes e tradições, em efetivamente crer na proteção total que em seu julgamento está oferecendo à visitante, é um belo momento que retrata a alma brasileira mais que dúzias de livros de sociologia.

Dirigido por Larissa Figueiredo e Indicado ao prêmio da crítica internacional no Festival de Rotterdam, “O Touro” traz ainda belos momentos sonoros de fortes as raízes brasileiras que merecem ser ouvidos com atenção.