A VIAGEM ROMÂNTICA, POLÍTICA E MUSICAL DE “GUERRA FRIA”.  

Por Celso Sabadin.

O tema do amor em tempos de guerra sempre foi um prato cheio para o cinema. No caso de um grande amor em tempos de uma grande guerra, mais saboroso ainda fica o prato. Utilizando todos os elementos típicos do gênero, o roteirista e diretor polonês Pawel Pawlikowski (o mesmo de “Ida”) conta a história de um tórrido romance impossível vivenciado por um professor de música e sua aluna. O pano de fundo é dado pelo próprio título do filme: “Guerra Fria”, ou seja, aquele complicado período de tensões políticas entre os EUA e a então União Soviética que quase explodiu o planeta.

O clima romântico/trágico/melancólico do longa é sublinhado por uma belíssima fotografia em preto e branco que remete a um saudosista encantamento “noir” estilo anos 40. A sensação é um mergulho nostálgico no tema, cujas emoções são potencializadas pelo protagonismo da música, por sinal, habitat natural dos personagens. A trilha, inclusive, assume em “Guerra Fria” uma marcante importância narrativa, na medida em que se transforma junto com o desenvolvimento dos protagonistas – de uma maneira particular – e das relações políticas mundiais, num pensamento macro. Nota-se, por exemplo, a mesma canção em sua forma bruta e folclórica no momento em que o pensamento nacionalista do pós-Segunda Guerra procura a autenticidade das  raízes populares, sua transformação pelas mãos do estado stalinista em hinos de louvor às lideranças socialistas, e seu rearranjo final – triste, melancólico e transposto para uma Paris dividida – quando se preconiza o fim das utopias.

Um belo trabalho coproduzido por Polônia, França e Inglaterra, premiado como melhor direção em Cannes e indicado pela Polônia para representar o país na busca pelo Oscar.

Estreia em 07 de fevereiro.