A VIDA PÓS-TRAGÉDIA É O TEMA DO TOCANTE “CAOS CALMO”.

Como reza a tradição cinematográfica italiana, novamente as relações familiares são a base deste apaixonante “Caos Calmo”, filme vencedor de três David di Donatello, a premiação máxima do cinema feito na Itália: Melhor ator coadjuvante (Alessandro Gassman), Melhor Trilha e Melhor Canção Original (L’Amore Trasparente).

Uma terrível tragédia familiar abala a vida do executivo Pietro (Nanni Moretti, também conhecido como o grande diretor de “O Quarto do Filho” e vários outros) e de Cláudia (Blu Di Martino), sua filha de 10 anos. Mas o livro de Sandro Veronesi que deu origem ao filme não busca exatamente investigar a tragédia, e sim suas conseqüências. O chamado “day after”, ou, no caso, “week after” ou “year after”. Como conviver com a dor da perda, como agir, o que fazer.

O protagonista opta por simplesmente nada fazer. Extremamente bem interpretado por Moretti (que também colaborou no roteiro), o executivo Pietro decide levar sua filha à escola, e simplesmente permanecer sentado num banco de praça até a hora da saída. Avisa sua secretária que não irá ao trabalho e dentro da mais absoluta tranqüilidade passa as horas contemplando o movimento do lugar. A experiência parece lhe fazer bem, mesmo porque no conforto de seu banco de madeira ele se sente revestido por uma ilusória sensação de segurança que nada acontecerá à sua filha, distante apenas poucos metros da praça.
E resolve repetir o ritual no dia seguinte… e no outro…. Enquanto isso, a empresa que ajuda a dirigir está em polvorosa, vítima de uma cruel negociação entre sócios e diretores envolvendo a possibilidade de uma fusão milionária.

Impassível como uma pedra, Pietro está em outro mundo. A tragédia pela qual passou o ajudou a criar uma escala de valores mais humana, mais real, onde o relacionamento interpessoal passou a ser muito mais importante que os negócios. Com sabedoria e complacência, passa a atender os associados, amigos e colegas sem sair do banco da praça. Ao mesmo tempo em que começa a viver uma nova realidade a partir dos anõnimos e desconhecidos habitantes do lugar. Na praça, a vida é mais simples. O caos é calmo. Se alguém quiser conversar com Pietro, que apareça por ali.

Um belo trabalho de direção sóbria, elegante e ao mesmo tempo profundamente emocionante de Antonello Grimaldi, cineasta que estava inédito no circuito comercial brasileiro. É o cinema italiano mostrando que – por mais que agonize financeira e mercadologicamente – sempre ressurge e comprova sua força e o seu (eterno) renascimento.