A VILA UNIVERSAL DE “5 CASAS”.

Por Celso Sabadin.

Não sei se teóricos e acadêmicos do cinema já rotularam um tipo de documentário, bastante comum nos últimos anos, no qual o documentarista parte de sua própria história pessoal – ou de sua família – para desenvolver seu filme. É uma tendência recorrente.

Quando comecei a ver “5 Casas”, imaginei ser algo do estilo. É e não é. A viagem documental aqui é empreendida pelo roteirista e diretor Bruno Gularte Barreto, que sai ainda criança da cidade de Don Pedrito, no interior do Rio Grande do Sul, deixando para trás um galpão repleto de caixas contendo lembranças de uma infância bastante dolorida.

Anos depois, já adulto, Bruno recebe a notícia que seu “galpão de memórias” havia sido destelhado por uma ventania, e que ele deveria voltar ali para dimensionar o estrago. Ele volta. E, obviamente abre as caixas há muito esquecidas. Aí, o estrago é outro: o emocional.

A partir deste destampar de sentimentos, o filme passa a procurar personagens representativos da infância do autor, que se tornam os fios condutores deste amargo regresso. O grande diferencial de “5 Casas” para outros documentários do mesmo estilo é que tais personagens acabam representando – cada um ao seu jeito – as diferentes mazelas que castigam este país ad eternum: desde a violência da homofobia até o descaso pelo envenenamento via agrotóxicos, passando pela insana e destrutiva especulação imobiliária. Assim, Don Pedrito se transforma no microcosmo do país e suas mais que estruturais ignorâncias.

Bruno Gularte Barreto ratifica com talento e seriedade o pensamento atribuído a Tolstói: “Se queres ser universal, começa por tua aldeia”.

“5 Casas” é um dos destaques da programação do 31º CineCeará, em cartaz presencial e virtualmente até o próximo 3 de dezembro. Saiba mais em https://www.cineceara.com