A VISÃO FEMININA DA BARBÁRIE EM “OS ESQUECIDOS”.

Por Celso Sabadin.

Antes de mais nada, vale uma rapidíssima contextualização: desde 2014, quando tropas russas invadiram a região da Criméia, ao sul da Ucrânia, as duas nações vivem uma crise sócio-político-econômica até hoje sem solução. A ação violenta russa é condenada pela maior parte do mundo, ao mesmo tempo em que a Ucrânia está hoje sob o comando de um presidente cuja ocupação anterior era a de humorista num programa de TV, onde fazia exatamente o papel cômico… de um presidente. Entre os desmandos e atrocidades do russo Putin e do ucraniano Volodymyr Zelensky, quem mais sofre – como sempre – é o povo.

É neste contexto que se desenvolve o filme “Os Esquecidos”, coprodução suíço-ucraniana lançada no último dia 13 de maio pela plataforma Cinema Virtual. A situação desesperadora da região não é retratada sob o ponto de vista dos bastidores do poder e da política, mas sim sob o olhar de Nina (Maryna Koshkina), uma professora ucraniana vivendo – ou tentando viver – em território ocupado.
Ao ver o jovem estudante Andrii (Danylo Kamenskyi) ser violentamente preso por colocar uma bandeira ucraniana em sua escola, Nina se compadece do rapaz, e fará de tudo para tentar sua libertação. Enquanto isso, Yura (Vasiliy Kukharskiy), o namorado de Nina, tem como única prioridade sua sobrevivência confortável a qualquer custo, mesmo que para isso tenha de se despir de qualquer valor moral.

Ao utilizar a tensão política como fator determinante da explosão dos conflitos sociais e morais, “Os Esquecidos” se descola da questão meramente geográfica da situação e torna-se mundial em sua denúncia: independente das nações e culturas envolvidas, as reações humanas têm a forte tendência de pender para a barbárie. Seja a selvageria inerente de quem detém o poder de fogo, bem como a validação velada de utilizá-lo animalescamente; seja o egoísmo estrutural de quem não hesita em se aproveitar de qualquer situação de superioridade – ainda que frágil, pequena e momentânea – para subjugar os seus, até ontem, iguais.

“Os Esquecidos” é o segundo longa da diretora Daria Onyshchenko, que também assina o roteiro ao lado de Claudia Lehmann. Acesse em www.cinemavirtual.com.br