A VISÃO HUMANISTA DA GUERRA EM “TAMBÉM SOMOS SERES HUMANOS”, LANÇADO EM DVD.

Por Celso Sabadin.

Filmes sobre a Segunda Guerra Mundial, de tão populares e numerosos, acabaram se transformando num gênero em si. O assunto parece não ter fim, e não há sinais que ele deixe de ser abordado pelo cinema tão cedo. Há, porém, um diferencial dos mais importantes e significativos em “Também Somos Seres Humanos”, que a Versátil lançou em DVD: ele foi feito durante a própria Guerra, no calor do momento, na emoção do conflito. E isso faz toda a diferença.

Lançado nos EUA em 18 de junho de 1945, “Também Somos Seres Humanos” é baseado nas matérias escritas pelo correspondente de guerra Ernie Pyle, interpretado no filme por Burgess Meredith. Não há um marcante fio condutor da trama, que acaba assumindo durante a narrativa uma estrutura de crônica jornalística. Ernie – que se torna ao mesmo tempo narrador e protagonista da história – acompanha a trajetória de alguns batalhões do exército norte-americano na campanha da Itália,  em 1944. Com astúcia de repórter, ele se interessa muito mais pelos tipos humanos que encontra pelo caminho que propriamente pelas estratégias bélicas. Desta forma, vemos no filme personagens humanamente bem construídos, desde o trágico caso do soldado que morre poucos dias após ter se casado, até o cômico recruta do Brooklçyn, de origem italiana, que sempre consegue um tempo para os mais improváveis encontros românticos. Sem esquecer a marcante história de um soldado que faz de tudo para encontrar um gramofone, em plena Guerra, para tentar ouvir um disco que lhe fora enviado pela esposa, contendo a voz de seu filho recém-nascido.

Comandados pelo Tenente Walker (Robert Mitchum), estes simples recrutas (ou G.I. Joes, como fiz o título original do filme) têm em comum uma certa mágoa pela maneira diferenciada e privilegiada que o exército americano – segundo eles – trata os militares da aeronáutica.  Dando ainda mais realismo ao filme, vários figurantes são realmente soldados dos EUA.

A direção é de William A. Wellman, dos clássicos “Inimigo Público” e “Nasce uma Estela” (versão de 1937), entre vários outros de sua longa carreira de mais de 80 filmes. Entre os créditos lê-se também o nome de Robert Aldrich como assistente de diretor, ele que mais tarde dirigiria “Os Doze Condenados” e “O Que Aconteceu com Baby Jane?”.

Como se fazer uma produção de guerra durante a própria guerra já não fosse uma carga emocional forte o suficiente, a nota mais trágica de “Também Somos Seres Humanos” veio em 18 de abril de 1945, dois meses antes da estreia do filme, com a notícia da morte do próprio Ernie Pyle, que cobria os conflitos em Okinawa.  É o cinema, que imita a vida, que imita o cinema, que imita a vida…