A Volta ao Mundo em 80 Dias

O tombo foi feio: refilmar o clássico A Volta ao Mundo em 80 Dias custou US$ 110 milhões e rendeu menos da metade nos cinemas dos EUA e Inglaterra. O filme não merecia um castigo tão grande. Não que ele seja uma maravilha, muito longe disso, mas também não é tão desastroso quanto seu fracasso financeiro pode deixar transparecer. Ele correu, sim, o risco de toda refilmagem: ser comparado ao original e perder. No caso, perder feio para a versão de 1956.
Esta releitura do livro clássico de Julio Verne optou pelo humor infantil, ingênuo, a um passo dos Trapalhões, e apostou suas fichas no carisma de Jackie Chan, que além do papel de Passepartout (que foi de Cantinflas no filme original) também assina como produtor executivo. O fio condutor da história é o mesmo: no final do século 19, o visionário inventor Phileas Fogg (Steve Coogan) aposta com os conservadores membros da Real Academia de Ciências (capitaneada por um ótimo Jim Broadbent, de Moulin Rouge) que é possível dar a volta ao mundo em 80 dias. Claro, numa época onde o avião ainda não existia. Ele se enrosca com Monique (a belga Cécile de France, de Albergue Espanhol), uma aspirante a pintora impressionista, e junto com o fiel escudeiro Passepartout sai pelo planeta para provar sua teoria.
Para justificar a presença de Chan o novo roteiro inventa uma historinha batida sobre um ídolo de jade que foi roubado de uma aldeia chinesa e precisa ser recuperado. Motivo mais do que suficiente para que o filme – uma aventura romântica em sua concepção básica – tenha seus momentos de artes marciais, desvirtuando o texto original, mas adaptando sua ação às platéias mais jovens. O resultado é irregular. Por um lado, algumas “participações” especiais (Irmãos Wright, Van Gogh, Rainha Vitória) tentam dar um sabor mais sofisticado à trama, mas por outro o roteiro carece – e muito – de um humor mais elaborado. O desenho de produção não faz feio, mas a falta de boas piadas e a não utilização de locações originais (quase tudo foi rodado na Alemanha) comprometem bastante esta refilmagem. E o pior: ao contrário de todos os filmes de Chan, este não mostra os erros de filmagem nos créditos finais. Imperdoável.
Arnold Schwarzenegger faz aqui sua última participação no cinema antes de ser eleito governador da Califórnia.