“ABE” TENTA A CONCILIAÇÃO PELO ESTÔMAGO.

Por Celso Sabadin.

Não sei se por causa da pandemia ou em função do resultado final do filme em si, mas o fato é que “Abe” – coproduzido ente Estados Unidos e Brasil – acabou não chegando aos cinemas.

Dirigido por Fernando Grostein Andrade (o mesmo dos documentários “Quebrando o Tabu” e “Encarcerados”), “Abe” é um filme repleto de boas intenções… que ficam pelo caminho. O título se refere a Abraham (Noah Schnapp, do seriado “Stranger Things”), garoto de 12 anos que tem avô paterno judeu, avós maternos muçulmanos, mãe igualmente muçulmana e pai agnóstico.
Perdido em meio a tantas referências religiosas pouco amistosas, Abe tenta resolver seus conflitos através da gastronomia. Se os mais diversos sabores mundiais podem ser misturados e “harmonizados”, por que não fazer o mesmo com os “temperos” de Deus? Ou de Alá?

A premissa é até interessante, mas o filme peca (sem trocadilho) pelo seu profundo medo de errar, ou de ofender qualquer um dos lados envolvidos. Ao tentar criar um longa palatável (de novo sem trocadilho) para um público mais amplo possível, o roteiro (escrito pelo próprio diretor em parceria com Lameece Issaq e Jacob Kader) não aprofunda nenhuma das vertentes que abre, buscando uma neutralidade segura que acaba se mostrando insípida (!). Isso sem falar numa sonolenta previsibilidade da trama e na perpetração do crime mais recorrente do cinema brasileiro atual: intermináveis narrações em off redundantes com a imagem.

Em “Abe”, o medo de errar foi bem maior que o desafio de acertar.
O tema renderá também um documentário “Sabores de Abraão”, que está sendo realizado pela mesma equipe.