ABISMOS CULTURAIS NO DINAMARQUÊS “MINHA ESTRANHA FAMÍLIA”.

Por Celso Sabadin.

O bom e velho tema do “de volta para casa” é um dos mais recorrentes no cinema. E costuma funcionar. Em “Minha Estranha Família”, o assunto é revisitado por Laura (Rosalinde Mynster), escritora de sucesso que, após longa ausência, retorna à fazenda dos pais, para o casamento do irmão.

O problema é que – durante seu distanciamento familiar – Laura tornou-se uma mulher sofisticada, urbana, liberal, antenada no mundo das artes e da cultura. Mudou até seu nome. Por outro lado, seus parentes permaneceram no conservador e tradicional estilo rural do qual jamais saíram.

Está estabelecido o conflito especificado pelo título original do filme, “Hvor Kragerne Vender” (algo parecido com Onde os Corvos Retornam) ou mesmo pelo seu título internacional, “Persona Non Grata”.

A investigação do abismo sócio-cultural-comportamental que se abre sob os pés desta estranha família (e qual família não é estranha?) é a base do roteiro de Sara Isabella Jønsson Vedde, escrito em pareceria com a diretora do filme, Lisa Jespersen, ambas estreantes em longas-metragens.

Optando por um estilo simples, direto e tradicional, a diretora Jespersen equilibra-se num meio termo conciliatório entre a polarização proposta pela trama, ora enveredando por um conservadorismo bucólico em detrimento de uma suposta contemporaneidade urbana, ora fazendo exatamente o trajeto inverso. Em entrevistas, ela admite que a inspiração de “Minha Estranha Família” nasceu de sua própria vivência no interior da Dinamarca, país de origem da obra.

Estranha-se apenas a rotulação que o longa vem recebendo em veículos internacionais – Imdb inclusive – que o classificam como comédia ou comédia dramática. Não há absolutamente nada cômico neste drama familiar premiado no Nordic International Film Festival.

“Minha Estranha Família” estará disponível a partir de 13/01 em  www.cinemavirtual.com.br