ADONIRAN – MEU NOME É JOÃO RUBINATO”, MUITO ALÉM DO TREM DAS ONZE.

 Por Celso Sabadin.

Poucos nomes da música são tão unânimes como Adoniran Barbosa. Parece praticamente impossível encontrar alguém que não curta sua genial e extensa produção musical. Assim, é mais que bem-vindo o lançamento do documentário “Adoniran – Meu Nome é João Rubinato”, de Pedro Serrano. Em função dos históricos, crônicos, congênitos e insolúveis problemas da distribuição cinematográfica brasileira, o longa, finalizado em 2018, só chega agora ao circuito comercial.

O filme faz a ótima opção de não se pretender sério. Ele assume a gaiatice do biografado para retratá-lo com a mesma ironia que o personagem destilou durante toda sua carreira. Uma imagem artística construída com bom humor e talento que permitia a Adoniran tanto vivenciar a imagem do italiano de fala errada do bairro do Bexiga como interpretar um nordestino no clássico “O Cangaceiro”, ou um sujeito elegante em “Candinho”.  Ator e personagem amalgamavam-se na persona do biografado de maneira indelével, não deixando transparecer ao grande público os limites entre Adoniran, Rubinato ou Charutinho. Entre outros. Mesmo porque não seria interessante para a carreira de Adoniran se viessem à tona alguns comportamentos violentos e misóginos de Rubinato.

Da mesma forma, se o Arnesto convidou ou não para o samba no Brás, se Mato Grosso e Joca de fato ficaram sem a maloca querida, ou se o compositor tomava realmente o último trem das onze da noite, tudo isso, sabiamente, o filme faz questão de não desmistificar com a crueldade do que poderia ser a verdade.

O longa trabalha sobre o acervo pessoal do artista, imagens de arquivo, depoimentos de amigos e familiares e, claro, boa parte da vasta e deliciosa produção musical de Adorinan, incluindo trabalhos inéditos.

Em alguns cinemas, o longa será precedido do delicioso curta ficcional em “Dá Licença de Contar”, do mesmo diretor, baseado na obra de Adoniran e grandemente premiado. “Adoniran, Meu Nome é João Rubinato” abriu o É Tudo Verdade 2018 e venceu Melhor Montagem e Melhor Trilha Sonora no 13º Fest Aruanda do Audiovisual Brasileiro.