“AFIRE”, O ENCANTADOR ESTRANHAMENTO DE PETZOLD.

Por Celso Sabadin.

Tenho uma certa dificuldade em expressar porque gosto tanto dos filmes de Christian Petzold. Dentro de uma aparente normalidade, este cineasta alemão constrói sem pressa tramas nunca menos que surpreendentes que vão extrapolar exatamente esta tal normalidade que ele finge construir.

Ele tece com paciência e leves toques de mistério uma urdidura de pequenos comportamentos que se intensificam na medida em que suas histórias evoluem. Seus personagens parecem as pessoas mais medianas do mundo que inadvertidamente se encaminham para variadas situações de um sutil estranhamento. Os resultados são hipnóticos.

Petzold é uma espécie de Flautista de Hamelin cinematográfico que encanta seus ratinhos cinéfilos.

Seu filme mais recente, “Afire”, não decepciona seus seguidores encantados. Numa aprazível casa próxima ao mar, o diretor e roteirista reúne quatro jovens personagens: Leon (Thomas Schubert) é o clichê do mal humorado escritor com bloqueio criativo; seu amigo Felix (Langston Uibel) está mais preocupado em consertar uma goteira na casa; e o salva vidas local Devid (Enno Trebs) não tem preocupação alguma, a não ser aproveitar a vida. O pivô feminino em meio ao trio masculino é a atraente e enigmática Nadja (Paula Beer).

Detalhe tipicamente petzoldiano: todo o entorno do paradisíaco local está ameaçado por um gigantesco incêndio florestal. Melhor não dizer mais nada, exceto que “Afire” foi o vencedor do Grande Prêmio do Júri no Festival de Berlim. E que ele acaba de entrar em cartaz nos cinemas brasileiros.

Da minha parte, após ver o filme, continuo com boa dificuldade em expressar porque gosto tanto dos filmes de Christian Petzold. O que é ótimo. Afinal, um cineasta que deixa o crítico sem palavras merece nossa atenção.

 

Quem é Christian Petzold

Com uma carreira pautada pela narrativa envolvente, estética sofisticada e profundidade emocional, Petzold conquistou reconhecimento tanto dos críticos quanto do público.

Seus filmes, reflexivos e envolventes, são marcados por personagens complexos, histórias intrigantes e uma habilidade extraordinária de capturar a essência humana.

Entre eles, destacam-se “YELLA” (2007), indicado ao Urso de Ouro de Berlim em 2007, e “BARBARA” (2012), que estabeleceu Petzold como uma das grandes promessas do cinema alemão, onde venceu o prêmio de Melhor Diretor em Berlim, e foi indicado a diversas outras categorias. Além disso, seus filmes mais premiados e expressivos são “PHOENIX” (2014), que é considerado por muitos um dos melhores filmes da década de 2010 e possui mais de 25 indicações a prêmios ao redor do mundo, e “UNDINE” (2020), que lançou Paula Beer como uma de suas musas.