Ágata e a Tempestade

Pessoas comuns vivendo suas vidas pela metade. O filme Ágata e a Tempestade, como na realidade, sugere que nada é pleno. D`Avanzo se descobre meio irmão de Torregini, que percebe ter vivido uma meia vida, já que até os seus 40 anos foi vítima de uma enorme mentira familiar. Dividido, Torregini não consegue se doar por inteiro nem à mulher, nem ao filho, nem à profissão de arquiteto. Sua esposa é uma psicóloga dividida: de manhã, faz sucesso na TV, e à noite fracassa dentro da própria casa. Ágata – que confessa não saber mais se suas lembranças vêm da vida real ou dos vários livros que leu – se entrega a um amor dividido, já que o objeto de sua paixão é casado. E mais: o rapaz tem um sósia quase gêmeo, quase clone. E sem querer estragar o fim do filme, Ágata vai preferir a ficção clonada à realidade dividida. Voltando a D`Avanzo, ele ama sua esposa mas não consegue ser fiel a ela. Divide-se com outras. A esposa, por sinal, é paraplégica, outra metáfora da divisão.
Engana-se, porém, quem achar que todas estas tramas carregam o filme com tons dramáticos. Pelo contrário. Ágata e a Tempestade é pintado com cores vivas e alegres (literalmente até, graças a uma direção de arte com sotaque almodovariano), esbanjando bom humor e situações cômicas. O resultado é uma comédia dramática que mistura com inteligência e singeleza um punhado de personagens verossímeis, de rápida assimilação e empatia. Indicado a oito David di Donatello (O Oscar italiano), Ágata e a Tempestade tem direção de Silvio Soldini, o mesmo do elogiado Pão e Tulipas.