“AGENTE 86″ PRESERVA O CARISMA DO SERIADO ORIGINAL.

Transpor para a tela grande do cinema o humor ágil e sutil do antigo seriado de TV “Agente 86” poderia ser um grande desastre. Afinal, o confuso agente secreto criado por Mel Brooks e Buck Henry, com a intenção explícita de parodiar os filmes de James Bond, destilava na telinha um humor sutil, de pequenos gestos e texto inteligente. Ou seja, características que passam longe das comédias americanas de cinema da era pós-Irmãos Farrelly.
Felizmente, porém, os produtores deste novo “Agente 86” realizaram dois grandes acertos: contratar os próprios Mel Brooks e Buck Henry como consultores do filme, e escalar o eficientíssimo Steve Carell (de “A Volta do Todo Poderoso” e “O Virgem de 40 Anos”) para o papel principal de Maxwell Smart. A consultoria dos criadores manteve o espírito original da série, enquanto Carell se mostrou uma opção mais do que exata, perfeita. Além de fisicamente parecido com Don Adams (o ator principal do seriado, falecido em 2005), Carell também tem na sutileza de gestos e expressões a melhor marca de seu humor, que trafega na contra-mão do escracho atual.
A trama atualiza a história do Controle, agência secreta de espionagem onde trabalha Maxwell Smart. Agora, o Controle vende a idéia de que ele não existe mais, pois teria sido descontinuado pelo governo dos EUA, logo após o desmoronamento da União Soviética. Como sua principal função era a espionagem contra os antigos comunistas, a agência teria se tornado – literalmente – peça de museu. Porém, este boato nada mais é que uma estratégia para manter o Controle mais secreto ainda. Ele continua existindo em algum lugar nos subterrâneos de Washington, por onde só se chega através de um elevador disfarçado de cabine telefônica, ícone inesquecível da abertura do seriado original.
É neste momento que o roteiro confunde um pouco o fã da antiga série. Neste novo contexto, ainda que ambientado nos dias de hoje, Smart ainda é um agente apenas burocrático, interno, sem atuação em espionagens em campo. Ele ainda não conhece a agente 99 (Anne Hathaway, de “O Diabo Veste Prada”, revelando seu lado sensual), tampouco o vilão Siegfried (Terence Stamp, de “Priscilla, a Rainha do Deserto”) da agência do Mal KAOS. Ou seja, se o Controle vive uma nova fase, pós-Guerra Fria, como 86 ainda sequer conhece aquela que viria a se tornar sua inseparável parceira, e como ele também desconhece o grande vilão da era comunista? Em que tempo, afinal, o filme se passa?
Engolido este dogma cinematográfico, resta curtir a nostalgia, o bom humor, as situações divertidas, os antigos bordões (“Errei por um tantinho assim” ou “Acreditaria se eu dissesse…”), os diálogos espirituosos e a intensa química que o diretor Peter Segal (de “Corra que a Polícia Vem Aí 33 1/3”) conseguiu imprimir ao seu elenco. Não somente ao casal central, como também aos ótimos coadjuvantes Alan Arkin (como o Chefe) e Dwayne “The Rock” Johnson, como o Agente 23. Com direito a uma pontinha de Bill Murray.
Graças às suas elaboradas cenas de ação, “Agente 86” é uma produção cara, de custos estimados em US$ 80 milhões. Se for sucesso de bilheteria – o que deve acontecer – espera-se uma continuação. Mesmo porque neste filme Max ainda não disse “eeeeeu… vou adorar!”