“ALBATROZ” ABUSA DO DIREITO DE SER CIFRADO.

Por Celso Sabadin.

 

Após mais de 30 anos, a escritora Alícia (Andrea Beltrão) decide tentar um reencontro amoroso com seu primeiro namorado, o agora famoso fotógrafo Simão (Alexandre Nero). Mas o rapaz está feliz e casado com Catarina (Maria Flor), uma bela e jovem compositora de jingles publicitários, e rejeita a antiga namorada. Com o orgulho ferido, Alícia vai planejar uma terrível vingança. Ou talvez não. Ou talvez o filme “Albatroz” nem seja sobre isso, mas sim sobre o assassinato do atual marido de Alícia (Roney Facchini), ou quem sabe ainda sobre a namorada judia de Simão (Camila Morgado), decepcionada pelo rapaz que se limitou a fotografar um atentado terrorista, ao invés de tentar ajudar os feridos.

Não há uma linha narrativa clássica e definida em “Albatroz”. Na primeira metade do longa, vemos um bem elaborado jogo de visões e percepções que questionam os limites entre ilusão e realidade partindo de pontos de vista de personagens que – cada qual à sua maneira – atuam em setores de produções artísticas e culturais. O fotógrafo enxerga cores nas músicas de sua esposa compositora; a escritora mistura verdades e reinterpretações ficcionais no livro que busca terminar; a atriz usa seu texto para atacar o fotógrafo e assim por diante num intrigante círculo vicioso de realidades e irrealidades que parece não ter fim.

Na segunda metade de “Albatroz”, porém, algo sai do controle. As várias camadas de imagens e sons se tornam cada vez mais ininteligíveis, os limites entre as diferentes percepções se borram definitivamente, a incomunicabilidade se estabelece de maneira mais radical, e será preciso um esforço hercúleo não apenas para que continue persistindo uma mínima compreensão do que esteja se passando na tela, como também para que se consiga comprar uma sub-trama de ficção científica se segunda linha que surge repentinamente na trama.

A direção é de Daniel Augusto, o mesmo de “Não Pare Na Pista – A Melhor História de Paulo Coelho”, com roteiro de Escrita por Bráulio Mantovani, de “Tropa de Elite” e “Cidade de Deus”.