“ALBERT NOBBS” TRAZ DESEMPENHO DELICADO DE GLENN CLOSE.

O mais recente trabalho do diretor Rodrigo García (oriundo de diversos trabalhos em televisão – “Família Soprano”, “Carnivale”, “A Sete Palmos” e “In Treatment” – e, curiosamente, filho do escritor Gabriel García Marques), é, na verdade, um sonho de muitos anos acalentado pela atriz e co-roteirista Glenn Close, este “Albert Nobbs” que chega agora a nossas telas.

Na pele de uma mulher que se passa por homem, na Dublin do final do século XIX devastada pela cólera, para poder se colocar profissionalmente (e fugir da sina de órfã de mãe solteira, violentada na infância) e alcançar alguma realização financeira, Albert trabalha num hotel como garçon, juntando cada centavo que ganha para poder, um dia, ter seu próprio negócio: uma tabacaria, para a qual já tem inclusive um imóvel em vista.

De modos reservados e poucas palavras, Nobbs leva seu austero dia a dia até que é forçado a dividir seu quarto por uma noite com um pintor que está fazendo reparos no hotel, Hubert Page (Janet McTeer, de “A Mulher de Preto”), e este acaba por descobrir seu segredo – o que a apavora -, apenas para lhe revelar, no dia seguinte que também partilha da mesma condição, sendo ele também uma mulher. A diferença é que Hubert havia sido casado até há pouco com um homem que abusava dela. Atingindo seu limite, fugiu levando as roupas dele e percebeu também que, como homem, teria muito mais chances de suceder profissionalmente. Levou sua performance a tal ponto que se casou com Cathleen (Bronagh Gallagher), com quem tem excelente relacionamento.

Nobbs começa então a imaginar-se também casado e, constituindo família, partir para seu negócio próprio. Aproxima-se então de Helen Dawes (Mia Wasikowska, de “Alice no País das Maravilhas”), empregada do hotel, e tenta interessá-la em si. Tarefa complicada pos esta está tendo um caso bem menos platônico com Joe Mackins (Aaron Johnson, de “O Garoto de Liverpool”), que se empregara como faz-tudo no hotel e imediatamente atraiu a atenção de Helen. Da relação entre eles nasce a cumplicidade e o plano dela aproximar-se de Nobbs para tentar extorquir algumas pequenas vantagens dele – uma caixa de chocolates, uma garrafa de whisky, um novo chapéu, pequenos tesouros para quem nada tem.

Obviamente, a coisa complica quando Helen engravida e Nobbs tenta solucionar a situação.
Permeado de boas atuações – Close se cercou de um bom elenco de apoio, com destaque para Janet McTeer e Pauline Collins (de “Shirley Valentine”), como a Sra. Baker, a dona do hotel -, “Albert Nobbs“ padece, na verdade, da espinha dorsal do filme: um roteiro simplista, repleto de situações e diálogos clichês, que acabam por enfraquecer o resultado final. Sendo notoriamente um trabalho de paixão – Glenn Close interpretou o personagem no teatro 1982 e, desde então, tenta levantar a produção do filme – pode ter sido solapado justamente por isso: a tendência é que se perca um pouco a visão crítica num envolvimento tão profundo com o material.

De qualquer maneira, deve ser conferido para que se perceba que Glenn Close é capaz de fazer praticamente qualquer coisa quando se empenha. Sua atuação é delicada, sutil e milimetricamente controlada, da voz à postura, passando por um olhar desesperançado de cortar o coração. Infelizmente, nesta temporada de prêmios, está batendo de frente com outras interpretações mais comercialmente atraentes, o que deve restringir suas possibilidades de prêmios. É uma pena. Ela está impecável neste filme. Experimente.

Em tempo: seu envolvimento no projeto é tal que chegou até a compor a letra da canção dos créditos finais do filme.

“Albert Nobbs” (Reino Unido / Irlanda – 2011 – 113’) Direção: Rodrigo García Com: Glenn Close, Mia Wasikowska, Pauline Collins, Aaron Johnson, Janet McTeer e Bronagh Gallagher, entre outros.
Distribuição: Paris Filmes