ALCEU VALENÇA MOSTRA SEU LADO CINEASTA EM “A LUNETA DO TEMPO”. E SE SAI BEM.  

Por Celso Sabadin.

Defendo a ideia que um dos caminhos para o desenvolvimento do nosso cinema é a diversidade. Para que se consolide, o cinema brasileiro deve produzir dramas, comédias, filmes autorais, artísticos, comerciais, experimentais, produtos para formação de plateia (filmes infantis e infanto-juvenis), documentários, tudo, sem preconceitos. Até musicais, por que não? Afinal, nosso país, de invejáveis tradição e diversidade na área, costuma acreditar que filme musical “é coisa de Hollywood”. Não é.

Certamente um musical brasileiro não teria números de bailados coreografados com pessoas que de repente saem cantando e dançando no meio da rua. Nosso estilo seria outro. Por exemplo, um cordel. Difícil imaginar? Nem tanto. Alceu Valença não só imaginou como concretizou o seu encantador “A Luneta do Tempo”, repleto de sons, músicas, poesia e muita brasilidade.

“A Luneta do Tempo” é a estreia do famoso cantor e compositor Valença no roteiro e na direção cinematográfica. Ele diz em entrevista que tinha o filme há 14 anos na cabeça, e finalmente conseguiu realizar seu sonho de contar esta deliciosa história, sob o formato de um brasileiríssimo cordel cantado. A trama fala de um cangaceiro, amigo e compadre de Lampião, morto de forma traiçoeira por um tenente. Abalada, a viúva do cangaceiro abandona o cangaço e foge com um circo, dando início assim a uma história que terá vários desdobramentos por décadas.

Recheado de canções compostas pelo próprio Valença, “A Luneta do Tempo” tem todas as suas falas e diálogos rimados como na literatura de cordel. O que, diferente do que possa parecer, não se torna cansativo em nenhum momento.  Pelo contrário: às vezes heroicas, às vezes cômicas, as rimas conduzem com graça e maestria esta narrativa que tem um pé no medieval e outro fincado nas profundas tradições nordestinas ligadas às alegorias e simbolismos, à religiosidade dicotômica de Céu contra Inferno.

As marcantes presenças de Irandhir Santos como Lampião e Hermyla Guedes como Maria Bonita são dois atrativos a mais para este belo trabalho que une música e cinema com muito talento.

A estreia é quinta, 24 de março.