ALEGÓRICO, “MEU NOME É DINDI” TEM INFLUÊNCIAS CINEMANOVISTAS.

Não basta fazer plano-seqüência. Conteúdo é fundamental. Se analisarmos dois filmes brasileiros recentes que se utilizam do belo recurso cinematográfico do plano-seqüência – “Ainda Orangotangos” e “Meu Nome é Dindi” – veremos entre eles diferenças abissais. O primeiro, radicalmente, realiza o filme inteiro num único plano, mas falta dramaturgia, calor. Enquanto o segundo opta por 18 longos planos-seqüência e obtém um resultado atrativo e hipnótico.

É uma questão de conteúdo, não de forma.

“Meu Nome é Dindi” joga o espectador dentro da vida da jovem Dindi (Djin Sganzerla, a falsa morena de “Falsa Loura”) logo nos primeiros segundos do filme. A câmera intimista de Lula Carvalho (que também faz ótima direção de fotografia) passeia pelo quarto da protagonista, flagra-a dormindo, registra seu despertar, sua rotina matinal e sua saída de casa, até chegar, do outro lado da rua, na quitanda carioca à beira da falência da qual ela é proprietária. Pronto! Em rápidos minutos já nos sentimos “íntimos” de Dindi, queremos saber sua história e como ela resolverá o problema do agiota que a pressiona por dívidas adquiridas. Isto é Cinema. Identificação e empatia imediatas com a protagonista graças à relação de intimidade com a câmera.

Uma maturidade narrativa que nem de longe faz parecer que se trata de um longa de estreante. Bruno Safadi, de 28 anos, após trabalhar como assistente de direção de cineastas consagrados como Nelson Pereira dos Santos, Julio Bressane e Ivan Cardoso, parte para seu primeiro longa já demonstrando qualidades.

“A utilização dos planos-seqüência tem a vontade de refletir esse conceito tão amplo e importante para a história do Homem: o Tempo. O filme é uma fábula sobre como algumas das características do nosso Tempo influem na vida de uma mulher do século 21, do centro antigo do Rio de Janeiro, a Dindi, e como ela reage a isso. Dentro da linguagem cinematográfica, o plano-sequência é uma forma de refletir e experimentar o Tempo dentro do Cinema. Um Tempo elastizado, agônico, limite,” explica o cineasta.
Além da questão conceitual, a solução também ajudou a baratear os custos de produção, já que após um mês de ensaios diários, a filmagem propriamente dita levou apenas uma semana. Ponto para o Baixo Orçamento.

Aos poucos novos personagens vão se incorporando à agonia limite de Dindi. O apoio vem do namorado, vivido por Gustavo Franco (“A Máquina”) e a pressão insuportável do agiota interpretado pelo ótimo veterano Carlo Mossy. Um quarto e misterioso elemento será incorporado ao trio.

Escolhido como o melhor filme na 11ª Mostra de Cinema de Tiradentes, “Meu Nome é Dindi” deixa claras as influências que o diretor recebeu ao trabalhar com Bressane, de quem é produtor. Há algo de alegórico e cifrado em seu filme, ainda que de leitura e compreensão bem mais lineares. Além disso, as cenas na praia remetem a “Os Cafajetes”, da mesma forma que a câmera “rodante” referenciam (e reverenciam) o Cinema Novo.

Safadi concorda em parte, e prefere citar como suas “influências conscientes” “Viver a Vida” (Godard), “The Killer’s Kiss” (Kubrick), e os primeiros filmes de Polansky. E vai além: “Dois Homens e um Armário”, “O Gordo e o Magro”, “Repulsa ao Sexo”, “A um Passo da Eternidade”, além de Bressane, Sganzerla, Gentil Ruiz, Mário Peixoto e Ruy Guerra.

Com tantas – boas – influências, o resultado é positivamente instigante, posicionando-se num bem-vindo meio termo entre o experimental e o narrativo.