“ALÉM DAS MONTANHAS” RETRATA A CRUELDADE DA IGNORÂNCIA RELIGIOSA.

As jovens Alina e Voichita se conheceram num orfanato na Alemanha, onde viveram um grande amor. Agora, Voichita é noviça num convento no interior da Romênia, onde dá abrigo a Alina, que passa por grandes problemas e não tem onde ficar. Resquícios da antiga paixão ainda permeiam os sentimentos das meninas, mas mudanças irreversíveis tornam impossível a retomada do relacionamento.

Após o elogiado e premiado “4 meses, 3 Semanas e 2 Dias”, o roteirista e diretor romeno Cristian Mungiu (o mesmo do delicioso “Contos da Era Dourada”) destila novamente seu estilo ácido e cruel de fazer cinema. Aqui, ele volta suas lentes contra a intolerância e a ignorância que se escondem por trás de um muro de convento. A cegueira da religião, levada às raias do fanatismo, resume todas as mazelas humanas numa única e simplista causa: a possessão demoníaca. Sendo então o tal demônio a raiz de todos os males, tudo o que for feito para combatê-lo recebe uma espécie de “aval divino” para sua execução, fazendo que todo e qualquer bom senso venha a cair por terra. Com trágicas consequências para Alina e Voichita.

Falando assim, pode até parecer que “Além das Montanhas” seja ambientado num obscuro convento medieval, numa época em que as bruxas eram queimadas em praça pública. Não é. Não apenas o filme se passa na época atual como ele foi baseado num história real que chocou a Romênia. Mungiu trata do tema com sua habitual contundência: de forma fria e direta, sem maneirismos desnecessários, deixando todo o impacto da obra a cargo de seu já suficientemente escabroso conteúdo.

De quebra, ainda faz uma denúncia “em passant” contra a exploração da mão-de-obra barata do lado de fora dos muros do convento.
Não por acaso, “Além das Montanhas” recebeu os prêmios de Roteiro e Atriz (para as duas protagonistas) no Festival de Cannes.