ALEMANHA ENCARA SEUS FANTASMAS DO PASSADO (E DO PRESENTE) EM “O MANICÔMIO”.

Por Celso Sabadin.

Uma primeira leitura superficial de “O Manicômio” pode indicar que o filme é apenas um terror convencional para o público adolescente. Porém, um olhar mais atento aponta para um interessante confronto entre as forças do passado e do presente. Ambas igualmente demoníacas. Vejamos: um grupo de adolescentes se propõe a passar um fim de semana num manicômio desativado há décadas, onde – é mais do que óbvio e esperado – acontecerão os clássicos e convencionais sustos que o gênero exige.

Até aí, nada de novo.  Mas não estamos falando de um manicômio qualquer, e sim de uma instituição que durante a Segunda Guerra foi utilizada pelos nazistas para seus cruéis experimentos com humanos. E também não se trata de um grupo qualquer de jovens e adolescentes, mas sim de famosos youtubers que se desafiam mutuamente – e a qualquer preço – para a obtenção de mais audiência. Ou views, ou likes, ou inscrições, ou seja o nome que for.

Temos então o encontro simbólico de um passado tenebroso com um presente aterrorizante. E, permeando os tempos, o desconhecimento do segundo em relação ao primeiro. Em determinada cena, um dos jovens imita Hitler, no que é imediatamente repreendido por um colega, afirmando que ele não tem ideia do que está fazendo. E de fato não deve ter. Talvez pouquíssimos tenham. A dramaticidade da ação se potencializa pelo fato do filme ser alemão, e consequentemente colocar a nova geração do país frente a frente com uma herança da qual todos procuram esquecer. E, ao esquecer, correm o risco de repetir a barbárie. Uma barbárie que nos dias de hoje pode não mais se utilizar de manicômios fisicamente instalados, mas que se apoia no grande sanatório de ideias esquizofrênicas que formam as redes (anti) sociais. Um tecido social de loucuras cujo potencial ainda não foi devidamente estudado e compreendido. Dele se sabe apenas que é capaz de eleger presidentes e líderes tão desequilibrados quanto os nossos tempos contemporâneos. E tão ou mais perigosos que os desenvolvidos nos antigos (e, comparativamente ingênuos) manicômios da época da Guerra.

Infelizmente, o filme só será distribuído no Brasil em cópias dubladas.