“ALEMÃO” MISTURA FICÇÃO E REALIDADE EM BOA TRAMA DE AÇÃO.

Antes que surja aquele velho papo de “mais um filme de favela”, vale dizer que há mais de 100 anos que os norte-americanos fazem “mais um western” e ninguém reclama. Então, sem patrulhamentos, o cinema brasileiro tem, sim, o direito de fazer quantos filmes de favela desejar, mesmo porque elas, as favelas, definitivamente fazem parte do nosso cotidiano e da nossa realidade.

Feito este micro discurso supostamente ideológico, vamos ao filme. Mais que “de favela”, “Alemão” é um filme de ação policial. Com um pezinho no documentário. A história é totalmente ficcional, mas ambientada dentro de um acontecimento real: a ocupação policial do Complexo do Alemão, em 2010.
Os protagonistas são cinco agentes policiais (Caio Blat, Gabriel Braga Nunes, Marcello Melo Jr., Milhem Cortaz e Otávio Muller) que, após passarem um período à paisana, infiltrados no Complexo e vivendo junto com a Comunidade levantando informações para a polícia carioca, se veem agora em situação desesperadora: documentos vazaram, suas identidades estão prestes a ser descobertas pelos traficantes, e as comunicações fora da favela foram cortadas por Playboy (Cauã Reymond), o
chefe do tráfico.

Habilmente, o roteiro desenvolve a construção de duas guerras, uma geral e outra mais particular, uma dentro da outra, e ambas intimamente interligadas. A guerra geral, de mocinhos e bandidos sem face, é aquela que já vimos na televisão: veículos de guerra (até um tanque), helicópteros, ampla ação policial, tiroteios, GloboNews, e um sabor superficial de espetacularização midiática.
Mas será a guerra particular destes cinco homens a que mais interessará ao filme. É neste microcosmo encerrado num subsolo de pizzaria que irão emergir, sob forte tensão, desconfianças de traições, pânico, violência e um profundo terror. Em determinado momento da trama, o roteiro lança mão, também de forma dupla, do sempre eficiente recurso da possibilidade da perda do filho. Tanto do lado dos fracos como do lado dos poderosos, como que mostrando que, venha de onde vier a rajada de balas, o prejuízo humano é sempre, terrivelmente, o mesmo.

Como fez em seus trabalhos anteriores (“A Concepção”, “Se Nada Mais Der Certo”, “Meu Mundo em Perigo” e “Billi Pig”), Belmonte aqui também busca evitar o óbvio. Há sempre um toque autoral, a procura por um estranhamento, uma provocação, uma breve radicalidade. Seja por um movimento de câmera mais ousado, por uma exacerbação de interpretação ou, como neste caso, pela utilização de trilhas e ruídos sonoros que contribuem fortemente para a criação de um clima de horror. Fora a montagem frenética, também utilizada aqui de maneira eficiente. Há um estilo, uma pegada forte, mesmo quando o cineasta se envereda pela comédia (caso solitário de “Billi Pig”).

Seja qual for o gênero, ação, policial ou “favela movie”, “Alemão” demonstra talento e competência.

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