“ALGO DE ERRADO NÃO ESTÁ CERTO” ASSUME O TOSCO COMO LINGUAGEM.

Por Celso Sabadin.

Muito antes da onda do “politicamente correto”, o cinema brasileiro possuía uma característica bem marcante e diferenciada: o escracho. Crônicos que somos na arte de não dar certo em praticamente nenhuma área do conhecimento (e de destruir rapidamente o que eventualmente possa funcionar), nós brasileiros, acabamos desenvolvendo um tipo de cinema em que a falta de estrutura, invariavelmente transformada em humor, torna-se linguagem.

Tal estilo aconteceu – sem humor – no Cinema Novo, sob o elegante epíteto de “Estética da Fome”, e um pouco mais tarde – com humor – no Cinema Marginal, que tinha como linha de conduta o “desbunde”, como se dizia na época. Mais especificamente em São Paulo, criou-se dentro do movimento Boca do Lixo a vertente do que se batizou como Pornochanchada, que era chanchada, mas não era exatamente pornô, num primeiro momento.

Outras vertentes de escracho surgiram no decorrer dos anos, ainda que algumas delas – casos dos filmes da Xuxa e de “Cinderela Baiana”, por exemplo – perpetradas por cineastas que não sabiam que estavam sendo ridículos. Ou pelo menos, afirmavam que não sabiam.

Tudo isso para dizer que chega agora na Amazon Prime Video o longa gaúcho “Algo de Errado Não Está Certo”, filme que retoma a tradição brasileira de zoar sobre o tosco, parodiando a tudo e a todos, e tentando fazer desta zoação uma linguagem cômica. E, aqui, com uma vantagem: logo na primeira cena ele já se coloca como uma releitura escrachada dos filmes policiais estadunidenses, ou seja, a paródia da paródia. O resultado é semiamador, o que é bom, pois diante da proposta o público até perde a noção do que é ruim porque é realmente ruim, ou é ruim porque seu diretor e roteirista – Evandro Berlesi – assim o quis.

A trama é o que menos importa, mas para quem gosta de sinopses, trata-se da trajetória dos detetives Walter Biombo e Tony Dodoy durante a investigação de um misterioso assassinato do motorista de Uber Deoclécio Bacia, vítima da “síndrome do imitador”, ou seja, ele não conseguia parar de imitar personalidades.

É um filme bom? Não. Mas eu ri muito!

“Algo de errado não está certo” é o sexto longa metragem de Evandro Berlesi, que também realizou “Cidade Dormitório” (2018), “O maníaco do Facebook” (2016), “”Eu odeio o Big Bróder”, (2014), “Eu Odeio o Orkut” (2011) e “Dá um tempo!” (2008). Filmes que eu não vi, mas que agora fiquei bem curioso.