“ALIANÇA DO CRIME” FALA DE DELAÇÕES MAIS QUE PREMIADAS. EM BOSTON.

Por Celso Sabadin.

Em tempos de delação premiada e heróis alcaguetes, é no mínimo oportuna a estreia de “Aliança do Crime”, terceiro longa dirigido por Scott Cooper, sucedendo “Tudo por Justiça” e “Coração Louco”. A partir do livro “Black Mass: The True Story of an Unholy Alliance Between the FBI and the Irish Mob”, de Dick Lehr e Gerard O´Neill, o filme conta a história real de Whitey Bulger (Johnny Depp, com uma maquiagem especial que o deixou calvo), um rapaz que começa sua “carreira” como delinquente juvenil, passa a atuar como informante do FBI, e se torna um dos mais famosos e poderosos criminosos de Boston. Para complicar a situação, Bulger também era irmão de um senador.

“Aliança do Crime” faz um magnífico trabalho de reconstituição de época, não apenas no quesito direção de arte (ambientações, figurino, maquiagem, etc), o que é mais do que esperado na indústria norte-americana, mas antes e principalmente em relação ao estilo cinematográfico da obra, que busca a mesma estética dos grandes filmes policiais que o cinema estadunidense sabia produzir como ninguém, nos anos 70.  Scott dá ao filme uma elegante sobriedade que potencializa com vigor a extrema violência e a perturbadora crueza dos momentos de dramaticidade mais intensa.

Percebe-se também como se vivia, naquele instante, um mundo e uma época de mulheres totalmente coadjuvantes.

Notável também em suas fotografia e edição, “Aliança do Crime” mostra mais uma vez como é tênue, quase inexistente, a linha que separa as altas cúpulas do crime organizado das mais poderosas entidades investigativas. Se é que separa.