“ALMA EM SOMBRAS” E OS RESCALDOS DA GUERRA.

Por Celso Sabadin.

Neste filme realizado em 1949, os ecos e consequências da Segunda Guerra Mundial permanecem presentes. Após um longo período de coma, Jim Fleischer (Bill Williams) acorda num hospital, sem lembrança alguma do que poderia ter lhe acontecido. Ele só percebe que o médico, a enfermeira e um colega internado o acusam de traidor dos EUA, e que a Corte Marcial parece inevitável. Jim decide então fugir do hospital e ir em busca de Barbara (Martha Gregory, esposa do ator na vida real), a mulher que poderia esclarecer o mistério. Ou não.

Ainda que distante do universo dos detetives particulares e das mulheres fatais, “Alma em Sombras” tem na incerteza e na dubiedade dos personagens a sua principal característica noir. Durante boa parte do roteiro de Carl Foreman (que ganharia anos depois o Oscar de roteiro adaptado por A Ponte do Rio Kwai), o espectador é colocado numa rede de questionamentos  que não lhe permite, pelo menos a princípio, estabelecer as tradicionais fronteiras entre mocinhos e bandidos. Aliás, como exige um bom e clássico noir. Mesmo sem ser brilhante, a direção de Richard Fleischer (que mais tarde marcaria sua carreira com notáveis filmes de ficção e ação, como 20.000 Léguas Submarinas e O Mundo de 2020) é segura e eficiente, conseguindo manter o interesse mesmo quando o desenrolar dos fatos já evidencia seu desfecho.

Primeiro filme produzido pela RKO depois que a empresa foi adquirida por Howard Hughes, “Alma em Sombras” faz parte da caixa Filme Noir volume 10, lançada pela Versátil.