“ALMAS GÊMEAS” E A PROPOSTA DE UM NOVO VIVER.

Por Celso Sabadin.

O recente – e ótimo – “Anatomia de uma Queda” nos convidou a escolher nossa própria verdade, e conviver com ela da melhor maneira possível. Agora, “Almas Gêmeas” nos faz outra provocação similar: por que não escolher uma outra vida?

O roteiro de Cédric Anger e do mestre francês André Téchiné (retornando à direção cinematográfica após quatro anos) sugere esta proposta através da história do jovem David (Benjamin Voisin, de “O Verão de 85”), tenente do exército francês que sofre um grave acidente numa operação militar em Mali.

Retornando ao seu país, David é acolhido pela meia irmã Jeanne (Noémie Merlant, de “Retrato de uma Jovem em Chamas”), que se dedica totalmente à recuperação do rapaz. A questão é que David não se recorda de absolutamente nada de sua vida antes do acidente. E, pelas informações que fica sabendo, prefere jamais voltar a recordar.

Aos 80 anos de idade, Téchiné – de “Minha Estação Preferida” – continua destilando seu estilo introspectivo e refinado de construção dramática que tanto marca o bom cinema francês. Desenvolve sua história sem pressa, envolve o público cuidadosamente em sua teia de emoções, ao mesmo tempo em que cria uma perspicaz dicotomia que confronta o sofrimento íntimo de seus protagonistas à grandiosidade eloquente das belas paisagens na região dos Pirineus.

“Almas Gêmeas” faz parte da atual enxurrada de lançamentos apressados que as distribuidoras estão atirando em cartaz, antes que o ano acabe. Estreou em 7 de dezembro. Se quiser ver, é bom correr.

 

Quem é o diretor

 

André Téchiné, nasceu em 13 de março de 1943, em Valence-d’Agen, França. A infância de Téchiné foi provinciana, marcada pela formação em colégio religioso, até ir para Paris aos 19 anos. Foi crítico da Cahiers du Cinéma entre 1964 a 1967. Sua estreia como diretor é com “Paulina s’en va” (1969). A partir de “Hôtel des Amériques”, em 1981, começa a filmar com Catherine Deneuve que se tornou uma das suas atrizes preferidas. Com “Rendez-vous” Techiné recebe a Palma de Ouro de Melhor Diretor no Festival de Cannes (1985). Aliás, Téchiné tem uma longa relação com o Festival de Cannes, ao todo, onze filmes foram exibidos em diferentes mostras, em competição foram “As Irmãs Brontë” (1979) e na Un Certain Regard “La Matiouette” (1983) e “Les Roseaux sauvages” (1994). Nas comemorações dos 70 anos do Festival, em 2017, o realizador foi convidado a exibir em sessões especiais o seu 22º longa, “Nos Années Folles”. Um dos seus filmes mais conhecidos é “Les Roseaux sauvages” que recebeu o César, em 1995, de Melhor Filme, Melhor Diretor, Roteiro e Atriz Revelação. Nos seus filmes, aborda vários temas ligados à moral e à evolução da sociedade contemporânea, como a homossexualidade, divórcio, adultério, desagregação familiar, prostituição e delinquência.

Filmografia

2023  Les Âmes sœurs | 2018  Adeus à noite | 2017  Nos années folles | 2016  Quando se tem 17 anos | 2014  O homem que elas amavam demais | 2011  Impardonnables | 2009  La Fille du RER | 2007  As testemunhas | 2004  Tempos que mudam | 2003  Anjos da guerra | 2001  Loin | 1998  Alice et Martin | 1996  Os Ladrões | 1994  Rosas selvagens  | 1993  Minha estação preferida | 1991  Não dou beijos | 1987  Les Innocents | 1986  A cena do crime | 1985  L’Atelier (doc) | 1985  Rendez-vous | 1983 La Matiouette (episódio de tv) | 1981  Hotel das Américas | 1979  As irmãs Bronte | 1976  Barocco | 1975  Memórias de uma mulher de sucesso | 1969  Paulina s’en va