ALTA DOSAGEM DE SACAROSE MARCA “O SOM DO CORAÇÃO”

Atenção diabéticos de todo o Brasil: evitem assistir ao romance “O Som do Coração”. Há muito tempo não se via um filme tão açucarado, meloso e melado como este nas telas de cinema. É de estourar os índices de triglicérides de qualquer um!

A história fala de Evan (o expressivo Freddie Highmore, da nova versão da “Fantástica Fábrica de Chocolates”), um garoto órfão que irrita seus colegas de orfanato com seu alto astral e otimismo. Fascinado por todo e qualquer tipo de sons e músicas, ele acredita piamente que seus pais ainda voltarão para buscá-lo, ainda que não exista nenhum motivo concreto para tanta fé.

Através de flashbacks, ficamos sabendo que Evan é fruto de um romance de um único encontro, quando o roqueiro irlandês Connelly (Jonathan Rhys Meyers), e a violoncelista clássica Lyla (Keri Russell) viveram uma noite mágica em Nova York… para nunca mais se encontrarem depois. A partir daí, as vidas desta família informal – de pai, mãe e filho que mutuamente se desconhecem – entram num turbilhão das mais improváveis desventuras.

O inacreditável faz parte do cinema, mas tem seus limites. Ou, no caso, deveria ter. O grande problema de “O Som do Coração” é que ele narra fatos inacreditáveis dignos de uma boa fábula romântica, mas que tenta trabalhar num registro realista. O resultado, assim, soa falso, com situações difíceis – quase impossíveis – de serem “compradas” até pelo mais crédulo dos cinéfilos. Junte-se a isso uma forte dose de sacarose temperada por canções melodramáticas, mais a ineficiente interpretação de Keri Russell, e temos uma espécie de novelão colombiano tentando ser blockbuster.

Com o perdão do trocadilho musical – já que o filme inteiro se desenvolve no mundo da música – “O Som do Coração” desafina feio e erra o tom. Ah, sim, o filme foi indicado ao Oscar de Melhor Canção com “Raise it Up”.