“AMIGO ARRIGO”, O CRIATIVO REGISTRO MUSICAL DE UMA ERA.

Por Celso Sabadin.
Não sei vocês, mas, por mim, esta tendência/moda/filão de documentários brasileiros realizados sobre personalidades da nossa música não devia acabar nunca. Tudo bem que só sobre a Maria Betânia já tem uns trocentos documentários, mas dada à riqueza da nossa produção musical e à nossa crônica falta de memória coletiva, a cada novo longa deste gênero parece que a própria cultura brasileira como um todo se renova.
Agora chega a vez do ótimo Arrigo Barnabé ganhar seu próprio filme. Que também é ótimo! Trata-se de “Amigo Arrigo”, dirigido por Alain Fresnot e Junior Carone, com roteiro de Mariana Fresnot.
Quem só conhece Arrigo Barnabé através de sua obra mais famosa – “Clara Crocodilo” – vai se surpreender ao saber – e ouvir – que o músico também tem um viés erudito em sua produção musical, que inclui até uma ópera e uma missa de réquiem dedicada ao colega e amigo Itamar Assumpção, o pai desta vanguarda paulistana que sacudiu os anos 1980.
Tal vanguarda, inclusive, é ao mesmo tempo pano de fundo e fio condutor do documentário, que contextualiza seu objeto num cenário de extrema criatividade musical tecido por Luiz Tatit, Hélio Sussekind, Tetê Espíndola, Premeditando o Breque, além do próprio Itamar, claro, entre outros. Faltou falar do Língua de Trapo, mas tudo bem.
O filme mostra a luta de se criar um som alternativo e dodecafônico, de difícil assimilação imediata junto ao grande público, e ao mesmo tempo driblar as barreiras de um mercado de mentalidade limitada e um final de ditadura militar de mentalidade retrógada.
Com depoimentos atuais aliados a um vasto material de arquivo (muito dele felizmente preservado pela competência dos arquivos da TV Cultura), “Amigo Arrigo” estreia nesta quinta, 04 de novembro, no Espaço Itaú de Cinemas de São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília, e no UNA Cine Belas Artes, em Belo Horizonte.