“AMIRA”: DENÚNCIA POLÍTICA ATRAVÉS DA DOR FAMILIAR.

 Por Celso Sabadin.

Mesmo aprisionado por Israel há vários anos, o palestino Nuwar (Ali Suliman) deseja ter mais um filho com sua esposa, Warda (Saba Mubarak). A filha adolescente do casal, Amira (a boa estreante Tara Abboud) se entusiasma com a possibilidade de um irmão. A ideia soa estranha, principalmente vinda através dos grossos vidros que separam os prisioneiros de seus visitantes, e com a intermediação de um frio interfone. A resposta não está – como imaginei num primeiro momento – na possiblidade de visitas íntimas, mas sim em um processo bem mais complicado: o contrabando de esperma.

O roteirista e diretor egípcio Mohamed Diab (o mesmo de “Clash”) desenvolve em “Amira” um envolvente e intrigante drama familiar com o objetivo de denunciar mais esta desumanidade cometida na eternamente explosiva região da Cisjordânia.

Dramaturgicamente, a opção parece das mais acertadas: caso enveredasse unicamente pelo discurso político, correria o risco de soar panfletário. Ao investigar o tema sob o ponto de vista de uma família em processo de desmoronamento pelas profundas chagas abertas pela questão, torna-se fortemente humano, vigoroso e universal. E mais: Diab o faz com precioso requinte cinematográfico, transformando luzes, cores e enquadramentos em um refinado mise en scène que o cinema vem ultimamente esquecendo.

Coproduzido por Egito, Jordânia e Emirados Árabes Unidos, “Amira” coleciona oito prêmios internacionais, incluindo dois em mostras paralelas do Festival de Veneza. Estreou nos cinemas na última quinta, 9/9.