“AMOR E OUTRAS DROGAS” TEM CHARME, CARISMA E CRÍTICAS À INDÚSTRIA FARMACÊUTICA.

O título pode sugerir que o novo filme do diretor Edward Zwick seja apenas mais uma comédia romântica. Não é. “Amor e Outras Drogas” se propõe a ir um pouco além das convencionais fronteiras do gênero romance: tece boas críticas contra a hipocrisia do bilionário mercado famacêutico – onde os remédios são tratados de forma exclusivamente mercantilista, como um produto de consumo igual a outro qualquer – e ousa um pouquinho a mais (só um pouquinho, é verdade) nas cenas de sexo, geralmente pudicas ao extremo no cinema comercial americano. Falando nisso, nos filmes comerciais americanos o pessoal sempre transa de roupa, engraçado né? Na verdade o filme é muito mais um romance dramático com toques cômicos que uma comédia romântica.

Baseado no livro “Hard Sell: The Evolution of a Salesman Viagra”, de Jamie Reidy, “Amor e Outras Drogas” é ambientado no final do século passado, pouco tempo antes do desenvolvimento do Viagra. Autobiográfica, a trama fala de Jamie (Jake Gyllenhaal), um sujeito simpático, carismático e totalmente “galinha” que consegue um emprego como representante dos laboratórios Pfizer. É como vendedor de remédios que ele terá de usar e abusar de todo o seu charme para convencer não somente os médicos a comprarem seus produtos, como também suas secretárias e enfermeiras, para que elas permitam a aproximação com os sempre ocupados doutores/clientes. Pelo caminho, o ambicioso vendedor conhece Maggie (Anne Hathaway), uma bela e atraente mulher perturbada por um improvável e totalmente prematuro Mal de Pakinson.

É mais fácil lembrar do diretor Edward Zwick por meio de seus eficientes filmes épico-aventureiros, como “Tempo de Glória”, “Lendas da Paixão”, “Coragem Sob Fogo”, “Nova York Sitiada’, “O Último Samurai” ou ”Diamante de Fogo”. Mas vale lembrar que sua estreia como diretor na tela grande foi com filme sobre relacionamentos amorosos urbanos: o talentoso “Sobre Ontem à Noite”, com Rob Lowe e Demi Moore, isso em 1986. De certa forma, Zwick volta às suas origens, e volta bem.

Um dos maiores méritos de “Amor e Outras Drogas” está na química do casal protagonista, que inclusive já havia atuado junto em “O Segredo de Brokeback Mountain”. Anne é provavelmente o rosto mais bonito e magnético da Hollywood atual, e Jake destila grandes doses de talento tanto nos momentos cômicos como nos dramáticos. Ainda que pasteurizada para o gosto do espectador médio, a direção é ágil e eficiente, e sabendo ousar em doses homeopáticas, acaba se posicionando alguns patamares acima do produto hollywoodiano convencional, sem jamais subestimar a inteligência da plateia.

Repare também nas participações de luxo dos veteranos George Segal e Jill Clayburgh, presenças constantes e marcantes em filmes românticos dos anos 70 e 80.