“AMOR POR CONTRATO” É BEM MELHOR QUE O SEU TÍTULO SUGERE.

Tirando a cacofonia (POR COntrato), o título em português para o filme “The Joneses” sugere uma comédia romântica. Não é. Também nada tem a ver com o “porco” do cacófato. A boa notícia é que “Amor por Contrato” é muito melhor do que o seu título sugere.

A trama começa mostrando a luxuosa mudança de uma luxuosa família para uma luxuosíssima casa. A bela Kate (Demi Moore, super em forma), o simpático maridão Steve (David Duchovny) e os charmosos filhos Mick (Ben Hollingsworth) e Jenn (Amber Heard, de “Zumbilândia”) formam a família perfeita. Mas aos poucos percebem-se alguns problemas. Steve e Kate dormem em quartos separados. Seria um filme sobre o relacionamento de um casal? Pior: certa noite, Jenn descaradamente tira a roupa e se enfia na cama de Steve. Seria um filme sobre assédio sexual de pai e filha?

Na verdade, não. “Amor por Contrato” é uma bem sacada crítica contra os abusos do marketing e o totalmente descontrolado excesso de consumismo da sociedade moderna. Como? Melhor ver o filme para saber. Nestes tempos ansiosos, onde grande parte dos trailers faz questão de estragar as surpresas da história, o inteligente argumento de Randy Dinzler deve ser preservado. A melhor maneira de curtir o filme é assim mesmo: sabendo o mínimo possível sobre ele e se deixando levar pelas surpresas. Aliás, esta não seria a melhor maneira de curtir todo e qualquer filme?

Porém, o maior pecado de “Amor por Contrato” foi não ter ido mais fundo na questão que se propôs a discutir, abrindo mão (por pressão de produtores, talvez?) de um tom mais contundente que o tema propiciaria, para ceder nos momentos finais a uma clara tentativa de agradar ao grande público. A premissa do filme é melhor que o seu desenvolvimento.

Talvez esta indefinição de proposta tenha afugentado o público nos EUA, onde “Amor por Contrato” não fez uma boa carreira: lançado em poucas salas, ele não chegou a faturar US$ 2 milhões, menos da metade de sua estimativa de custo. Ou talvez a crítica ao consumismo tenha pegado muito forte no consumista mercado norte-americano. Ou talvez ainda o público médio de lá não tenha sequer alcançado a ideia.

De qualquer maneira, trata-se de uma estreia mais do que louvável do roteirista e diretor alemão Derrick Borte, que iniciou sua carreira no mercado publicitário. O que certamente deve ter aguçado ainda mais sua crítica ao marketing agressivo.