“AMORES INVERSOS” RETOMA VELHO TEMA COM QUALIDADE.

O ex-cineasta Peter Bogdanovich, alguns pares de anos atrás, abandonou a profissão por considerar que “todos os bons filmes já foram feitos”. Não tenho esta visão tão radical do Cinema, mas às vezes parece que, se todos os bons filmes não foram feitos, há vários pedaços de bons filmes que sempre parecem estar sendo refeitos. É a impressão que fica após se assistir ao drama romântico “Amores Inversos”. A situação de uma pessoa estranha “invadindo” um ambiente estranho para nele interagir, arrumando-o, “limpando-o” (nas mais diversas acepções da palavra”), e provocando assim um arco dramático mais do que positivo tanto no protagonista, quanto no personagem que com ele irá interagir. É uma situação dramática das mais comuns, já vista, por exemplo, em “Bagdá Café” e no brasileiro “A Oeste do Fim do Mundo”, que por sinal também estreia nesta quinta, 28 de agosto.

Porém, assim como bons amigos e boas músicas que a gente gosta de revisitar, as boas situações dramáticas de um bom filme também podem ser prazerosas. Principalmente quando bem dirigidas, como é o caso deste “Amores Inversos.”

A cena inicial do filme é puro cinema. Um quarto escuro onde surge a protagonista Johanna (Kristen Wiig, ótima) para abrir as janelas do quarto de uma senhora adoentada. Sem nenhum tipo de cumprimento, nem sequer um bom dia, Johanna abre as cortinas, e a velha senhora simplesmente lhe diz: “Eu queria usar meu vestido azul”. A empregada cruamente responde: “Sim senhora”. Corta. Empregada aparece com vestido azul na mão e percebe que a senhora está morta. Ato contínuo, sem esboçar nenhuma reação emocional, ela simplesmente dá o melhor de si para vestir o corpo com o esperado vestido. Cumprida a tarefa, ela comunica a morte às autoridades, novamente sem um pingo de emoção. Missão cumprida.

Esta breve introdução é fundamental para que se compreenda um pouco da alma de Johanna, uma mulher de sentimentos travados da qual não saberemos sua história. A partir daí, temos a repetição de alguns bons e velhos clichês do drama americano: a família disfuncional, uma morte provocada por embriaguez, relações estremecidas, feridas abertas, etc etc. Não é necessário ser muito entendido em dramaturgia para perceber que Johanna entrará naquela família tanto para transformá-la, como para ser transformada por ela. Nada muito diferente do que se espera, mas com uma bela, segura e sóbria direção de Liza Johnson, neste seu primeiro longa a chegar no mercado brasileiro.

Isso sem contar a sempre bem-vinda presença de Nick Nolte. Ah, e pelo menos o filme não termina em grua, o que já o coloca num certo panteão dos deuses do moderno cinema americano.