“ANATOMIA DE UMA QUEDA”: ESCOLHA A SUA VERDADE.

Por Celso Sabadin

Mais um filme de tribunal? Longe, muito longe disso. O drama francês “Anatomia de uma Queda” pode até seguir os parâmetros deste subgênero, mas vai muito além do chamado ”whodunit” (expressão que caracteriza filmes cujo mote principal é descobrir o autor de um crime).

Vencedor do prêmio máximo no Festival de Cannes do ano passado, o longa explora com profundidade não apenas as questões e motivos que levaram o personagem Samuel (Samuel Maleski) à morte (a tal queda do título), como também – e principalmente – as consequências que se abatem sobre o pequeno Daniel (Milo Machado Graner), ao ver as vidas de seus pais devassadas publicamente. As suspeitas oscilam entre uma queda acidental e um assassinato premeditado por Sandra (Sandra Hüller), esposa de Samuel.

O conceito de que cada um escolhe sua própria verdade para poder prosseguir a vida da maneira menos traumática possível é o grande cerne dramatúrgico da obra.
Além da intensa discussão deste lancinante conteúdo, “Anatomia de um Queda” ainda exibe um espetacular domínio das técnicas e da narrativa cinematográficas, na medida em que expõe e desenvolve suas premissas e conflitos com a elegância, o vagar, a sobriedade e as sutilezas dignas dos grandes suspenses dramáticos.

Méritos totais para a diretora Justine Triet, que também assina o roteiro com Arthur Harari, seu parceiro nos anteriores “Sybil” (2019) e “Na Cama com Vitória” (2016).

O ano de 2024 começa muito bem no quesito de estreias cinematográficas.