ANO CINEMATOGRÁFICO COMEÇA BEM COM “PASSAGEIROS”.

O roteirista novaiorquino Jon Spaiths conseguiu um feito raríssimo: escrever uma história original, criativa e inteligente, não baseada em nenhum material prévio (livro, filme antigo, etc), sozinho (pelo menos só ele assina o crédito de roteiro do filme) e, o mais impressionante: que não ficou esquecida na gaveta de nenhum produtor hollywoodiano, e realmente foi filmada. A empolgante e sufocante trama imaginada por Spaiths deu origem ao ótimo “Passageiros”, que chega aos cinemas com direção do norueguês Morten Tyldum, o mesmo do excelente “O Jogo da Imitação”.

Num futuro muito distante, uma gigantesca nave espacial leva 5 mil pessoas rumo a um planeta que está sendo colonizado por nós, terráqueos, já que, como sabemos, conseguimos esgotar os recursos naturais da Terra. Como a viagem tem previsão para durar 120 anos, a nave é totalmente automática, e todos os seus passageiros e tripulantes dormem profundamente o sono dos séculos. Até o momento em que um pequeno defeito acorda um, e apenas um dos passageiros: o mecânico Jim (Chris Pratt). Repentinamente, ele se torna o mais solitário dos homens, vendo-se obrigado a interagir apenas com máquinas, sem nenhum contato humano, desesperadamente tentando se fazer compreender, mas tendo diante de si apenas programas de computador não pensantes e especialmente criados para negar a existência do erro. Igual quando a gente tenta cancelar uma assinatura da NET.

Para piorar ainda mais a situação, Jim acordou 90 anos antes do prazo. Ou seja, morrerá sozinho antes de chegar ao seu destino, e se conseguir voltar à Terra todas as suas referências de vida também estarão irreversivelmente alteradas. A gigantesca nave se torna inadvertidamente um imenso mausoléu de morte para o jovem mecânico desesperado e solitário.

Através desta premissa, “Passageiros” carrega nos seus minutos iniciais uma forte carga dramática e emocional, levantando metáforas sobre solidão, egoísmo, individualidade, e a própria finitude da grande viagem da vida.

Contudo, não nos animemos em demasia: “Passageiros” é, sim, um produto criado para ser blockbuster, desenvolvido por grandes produtoras norte-americanas, e como tal é inevitável que faça várias concessões comerciais. O filme opta por não aprofundar as questões existenciais que o seu início sugere, e cria subterfúgios nem sempre diferenciados para que possam acontecer os inevitáveis momentos de ação e adrenalina, sem os quais o cinema norte-americano sequer existe. Tudo isso empana um pouco o brilho do argumento, mas mesmo assim “Passageiros” consegue se situar alguns degraus acima da média do gênero. Pode não ser tão intrigante como, por exemplo, “Interestelar” e “A Origem”, mas rivaliza em qualidade com “A Chegada”, isso para citar apenas alguns exemplos mais recentes da ficção científica.

A estreia é nesta sexta, 5 de janeiro.