“ANTES DO FIM”, PELO DIREITO DE MORRER.

Por Celso Sabadin.

“Antes do Fim” reúne em seu elenco dois dos nomes mais representativos da história do cinema brasileiro: o estudioso, pesquisador, crítico e – mais recentemente – ator Jean-Claude Bernardet, e a atriz, musa e – mais recentemente – diretora Helena Ignez. Duas verdadeiras lendas vivas do nosso audiovisual que interpretam um casal unido e feliz, juntos há 65 anos.

Ele, ao completar 80 anos, quer se suicidar. A ideia é se retirar do palco da vida sem sofrimentos, sem hospitais nem decadência, e interromper – pelo menos de sua parte – a fonte de renda da indústria farmacêutica. Ela, que sempre foi sua companheira de vida, aceita com tranquilidade a decisão, mas não quer ser sua companheira de morte. Opta pela continuidade. Enquanto se preparam para a inevitável despedida final, ambos se entregam a performances artísticas, visuais, poéticas e sensoriais neste filme de linguagem experimental dirigido por Cristiano Burlan, com roteiro de Ana Carolina Marinho e do próprio diretor.

Gaúcho radicado em São Paulo, Burlan é presença constante em grandes festivais de cinema, e o tema da morte é uma das características marcantes de sua obra. Agora em 2018 o cineasta terminará sua Trilogia do Luto, composta por três documentários sobre as mortes de seu pai, irmão e mãe. “Antes do Fim” marca também a quinta parceria do diretor com Bernardet, depois de “Fome”, “Hamlet”, “No Vazio da Noite” e “Amador”. Helena Ignez também estará em outro longa do diretor, “O Projeconista”, em fase de finalização.

Todos estes filmes – e muitos outros – fazem parte de um cinema brasileiro inquieto, criativo e provocativo que fica à margem do circuito exibidor, lutando por seu espaço em sessões especiais, festivais e plataformas digitais. Um cinema refém dos crônicos, históricos e aparentemente insolúveis problemas de distribuição/exibição de um mercado colonizado. Perde muito quem não conhece.

“Antes do Fim” estreia 15 de fevereiro.