“ANTES QUE TUDO DESAPAREÇA”, A REINVENÇÃO DO HUMANO.

Por Celso Sabadin.

Seres alienígenas invadem a Terra em filme japonês. Certamente esta frase já criou vários ícones no seu imaginário. Esqueça todos eles. “Antes que Tudo Desapareça” é, sim, um filme japonês e fala, sim, de uma invasão de extraterrestres. Mas nada de discos voadores, raios destruidores, efeitos especiais ou godzillas. A invasão aqui transcorre no nível da alma humana, de suas aflições e percepções. Afinal, trata-se de um filme de Kiyoshi Kurosawa (sem parentesco com o famoso Akira), presença constante em renomados festivais internacionais, principalmente Cannes.

Aqui, os alienígenas apoderam-se dos humanos, roubando-lhes a essência do seu ser, confundindo os sentimentos do bem e do mal, borrando as fronteiras da ética e do pertencimento, transformando sensações e sentimentos.  Nossos corpos se tornam meros hospedeiros de uma nova ordem, de novos valores que não apresentam nem se estabelecem claramente… como os nossos também, afinal, nunca se esclarecem. Ao se (re)apaixonar pelo marido antes infiel – agora zubinizado – a mulher antes irada – agora penalizada –  reestabelece um novo ordenamento afetivo e comportamental sem julgamento de valores. E, por isso mesmo, repleto do típico estranhamento poético-simbólico que tem permeado a obra deste Kurowasa.

Baseado na peça de Tomohiro Maekawa. “Antes que Tudo Desapareça” concorreu na mostra Um Certain Regard, em Cannes, e estreou no Brasil em 12 de abril.