APOCALÍPTICO “GRAVIDADE” ABRE O 35º CINE CEARÁ.

 Por Celso Sabadin, de Fortaleza.

No voo até Fortaleza, onde vim acompanhar e cobrir o 35º Cine Ceará, assisti ao filme estadunidense “A Vida de Chuck”, sobre o fim do mundo. Horas depois, eu estava no belíssimo Cine São Luiz, na capital cearense, para ver o primeiro longa em competição no evento: “Gravidade”. Sobre o fim do mundo.

Como eu não acredito em coincidências, pero que las hay, las hay, fiquei um pouco perturbado, e decidi me apoiar emocionalmente numa frase de Luís Fernando Veríssimo que diz: “Viva cada dia como se fosse o último. Um dia você acerta”.

Primeiro longa do pernambucano Leo Tabosa, “Gravidade” é uma coprodução Ceará/Pernambuco que usa o simbolismo do final dos tempos para retratar uma espécie de rito de passagem entre duas mulheres. Sydia (Clarisse Abujamra) e Nina (Hermila Guedes) são mãe e filha isoladas na antiga mansão da família, assustadas pelas notícias que explosões solares mergulharão nosso planeta num período de trevas, e que a força da gravidade será anulada.

Sydia mantém elos com a religião aprendida; Nina é racional e cética. Diante das fortes e fugazes luzes alaranjadas que o sol cospe sobre as trevas terrenas, chega a hora de antigos segredos e mágoas virem à tona.

Os conflitos humanos em tom confessional associados à urgência da hecatombe me lembraram “Melancolia”, de Von Trier. Mas em “Gravidade” a melancolia é lúgubre, escurecida pelas sombras e cores do sempre preciso diretor de fotografia Petrus Cariry. E o roteiro de Tabosa e Arthur Leite acena com alguma possibilidade de redenção, também ao contrário do filme de Trier.

Estabelecida a alegoria, prevalece o drama humano potencializado pela possibilidade real da finitude, embora “Gravidade” acabe pecando ao optar pelas resoluções verbais em detrimento do imagético.

Danny Barbosa, Marcélia Cartaxo e Helena Ignez também são destaque do elenco eminentemente feminino de “Gravidade”.

A programação completa do 35º Cine Ceará está em https://cineceara.com/

 

Quem dirige

0000000000000000000000leo  Foto: Divulgação Cine Ceará

Leo Tabosa é diretor, roteirista e produtor cultural pernambucano. É graduado em História e em Comunicação Social e mestre em Comunicação pela Universidade Católica de Pernambuco (Unicap). Em 2014, fundou a produtora Pontilhado Cinematográfico e atualmente ocupa o cargo de Gestor Cultural da Unicap.  É idealizador e diretor artístico do Cine Jardim – Festival Latino-americano de Cinema de Belo Jardim (Belo Jardim – PE) e da Mostra Curta Vazantes: Cinema em Comunidade (Aracoiaba – CE).  Realizou oito curtas-metragens que circularam em diversos festivais e venceu mais de 80 prêmios nacionais e internacionais. “Gravidade” (2025) é o seu primeiro longa-metragem como diretor. O próximo longa, intitulado “Essa Tristeza que Não Vai Embora”, encontra-se em fase de desenvolvimento.

 

Celso Sabadin cobre o CineCeará a convite da organização do evento.