“AQUI” E O MINIMALISMO DOS SENTIDOS.
Por Rafael G. Bonesi.
Estabelecendo um grande desafio para si mesmo, “Aqui” é um filme que beira a narrativa experimental, com a trama se desenvolvendo a partir de um único ponto de vista, uma câmera fixa em um plano que conta as histórias de tudo que já aconteceu naquele lugar, desde os dinossauros até os dias atuais, com foco em uma família específica.
Correndo grande risco de ter uma obra entediante, o diretor Robert Zemeckis faz um excelente trabalho nessa narrativa, utilizando de recortes visualmente semelhantes a quadros para indicar cortes na montagem, compondo uma mise en scène sempre variada, apesar da limitação do único plano, e trazendo trechos de diferentes épocas sobrepostos entre si.
Entretanto, após introduzir essa grande ideia de misturar as épocas para contar a história desejada, o diretor parece segurar as rédeas de si mesmo, utilizando pouco das opções criativas disponíveis a ele por sua escolha estética, preferindo repetir os mesmos métodos de transição diversas vezes na trama, tornando-se previsível em alguns momentos.
Além da montagem, Zemeckis consegue fazer com que a câmera parada não limite tanto seus planos, utilizando uma direção muito cuidadosa de movimentos dos atores. Tal qual uma peça de teatro, nenhum passo é dado em vão, permitindo que os personagens tenham seus closes e planos conjuntos pelo simples fato de se aproximarem da câmera, um método que traz um respiro ao filme sempre que utilizado.
Conduzindo essa narrativa repleta de coração, Zemeckis – mais do que a história de um local ou de uma família -, fala sobre a experiência de ser humano. Ao acompanharmos a trajetória de Richard Young (Tom Hanks), do nascer à velhice, é inevitável notar as semelhanças com episódios de nossas próprias vidas, tanto em sua vivência quanto nas dos outros moradores anteriores da mesma casa, sendo profundo em detalhes e causando emoção sem a necessidade de grandes truques.
Talvez provando que o teatro possa existir dentro do cinema (por mais que não deva), “Aqui” é um filme extremamente sensível, que encanta com suas decisões artísticas, transformando suas barreiras em sua maior força e as quebrando para um final emocionante, mesmo tendo uma narrativa previsível, que sobrevive apenas pela sua técnica.
Estreia nos cinemas brasileiros nesta quinta, 16/01.