“AR PARADO”, UMA PRECIOSIDADE ITALIANA.

Por Celso Sabadin.

Na primeira cena de “Ar Parado”, um dos personagens principais diz que,  quando garoto, enquanto caçava com seu irmão mais velho, feriu uma rolinha ao atirar nela. E que, ao invés de matá-la, levou-a para casa na intenção de curá-la. Logo ficamos sabendo que o personagem em questão é um agente penitenciário que – juntamente com alguns colegas – comemora a descontinuidade do presídio onde trabalha.

Mais alguns minutos de filme e revela-se que, por causa de um erro burocrático, o tal presídio terá de ficar aberto por mais algum tempo. E que um punhado de agentes de segurança precisarão permanecer por ali, cuidando dos únicos 12 presos remanescentes. O lugar é gigantesco.

Assim começa “Ar Parado”, terceiro longa ficcional do diretor napolitano Leonardo Di Constanzo, vencedor de 6 prêmios em Veneza pelo seu filme “L´Intervalo”, de 2012.

Com roteiro de Bruno Oliviero, Valia Santella e do próprio diretor, “Ar Parado” é um belíssimo estudo sobre liberdade, culpa e humanidade. Praticamente toda a ação se desenvolve dentro das – ao mesmo tempo – majestosas e opressoras muralhas do presídio em vias de desativação. É ali que dois grupos distintos de homens maltratados pela vida passarão por um minucioso processo de polimento humano, do qual emergerão antigas dores e lembranças somadas a novas reflexões. De um lado, 12 prisioneiros que – em determinada cena envolvendo uma ceia improvisada – evocarão até referências bíblicas. Do outro, um número similar de agentes supostamente destinados a manter alguma ordem e dignidade em meio ao desequilíbrio. Mas quando todos, cada qual à sua maneira, estão presos, existe realmente um lado a ser mantido?

Além dos preciosos roteiro e direção, e de um intenso duelo de intepretações mantido pelos dois principais protagonistas (vividos por Toni Servillo e Silvio Orlando), “Ar Parado” ainda se destaca por dois importantíssimos quesitos técnicos: fotografia e trilha sonora.

Magnificamente fotografado por Luca Bigazzi (o mesmo de “A Grande Beleza”), o cárcere desativado de San Sebastiano, em Sassari, na Sardenha, torna-se ele próprio um personagem a parte. E a música do professor, pesquisador e compositor Pasquale Scialò busca nas raízes medievais napolitanas a matéria-prima para o desenvolvimento de sua trilha.

Um verdadeiro achado disponibilizado gratuitamente pelo 16º Festival de Cinema Italiano, em exibição online até 5 de dezembro em https://festivalcinemaitaliano.com