AS ASFIXIANTES RELAÇÕES FAMILIARES DE “É APENAS O FIM DO MUNDO”.

Por Celso Sabadin.

É cada vez mais difícil usar a expressão “família disfuncional” ao se escrever uma crítica de cinema: soa redundante. O que, evidentemente, não é culpa do cinema, mas da deterioração das relações humanas que tem produzido cada vez mais disfuncionalidades não apenas entre as famílias. Passados estes dois segundos de sociologia de buteco, vamos ao filme “É Apenas o Fim do Mundo’.

Após 12 anos de ausência, o jovem escritor Louis (Gaspard Ulliel) retorna à casa de sua família para um importante comunicado. Lá chegando, imediatamente mergulha num asfixiante caos humano que inclui uma mãe eufórica e descompensada (Nathalie Bayé), uma irmã revoltada que mal conhece (Léa Seydoux), um irmão psicopata (Vincent Cassell) e uma cunhada submissa (Marion Cotillard).  A montanha russa de sentimentos conflitantes em que Louis embarca é tão intensa e sem saída que ele passa a questionar se faz ou não o tal comunicado importante que seria, a rigor, o único motivo de sua viagem.

O diretor canadense Xavier Dolan, o mesmo de ”Eu Matei a Minha Mãe”, sublinha o tom exasperador do filme com sufocantes planos fechados que, além de potencializar a doentia claustrofobia familiar do grupo, acaba brindando o espectador com uma magnífica performance de todo o elenco que, diga-se, é de fato de primeira linha.

Percebe-se no filme a origem teatral da trama, roteirizada pelo próprio Dolan a partir da peça  “Juste la fin du monde”, que o autor francês Jean-Luc Lagarce, falecido precocemente em 1995, escreveu tendo suas próprias experiências como base. Mas não se trata de teatro filmado. Com vigor, “É Apenas o Fim do Mundo” tem luz própria intensa o suficiente para incomodar e sensibilizar o público com um dos temas mais recorrentes da sociedade atual: a família disfuncional. Seja ela de quem for.

Vencedor do Grande Prêmio do Júri em Cannes, o filme estreia nesta quinta, 24 de novembro.