“AS BESTAS”, TENSO E SUTIL.
Por Teo Bressane-Sabadin, do Rio de Janeiro, especial para o Planeta Tela.
A coprodução franco-espanhola “As Bestas”, dirigida por Rodrigo Sorogoyen, esteve no Festival de Cannes 2022 e agora chega ao Festival do Rio, na categoria Panorama.
Com ambientação no interior da Galícia, acompanhamos um casal francês em busca de uma plena adaptação ao cenário rural da pequena vila em que se estabeleceram. Apesar da aparente tranquilidade e monotonia do local, uma má relação com os vizinhos guia a narrativa a um estado de angústia e tensão constante que, uma vez estabelecida, se firma até os minutos finais.
O filme se estrutura em um ritmo lento, o que é importante para sustentar a tensão, de modo que todo seu desenrolar é bastante sutil e esmaecido, mas sempre ancorado ao imaginário do conflito velado que paira o entorno.
As trocas de cena são secas, mas seguem um único contexto que por si só as amacia, tão como as cores na tela, que mantêm-se cruas e uniformes. Nada perde o encaixe, nem salta aos olhos. O tom desarmônico está sempre por detrás.
Na chegada do clímax, temos uma deformidade de tessitura sonora que potencializa a agonia da cena. Em meio a um momento de grande inquietação, o filme se utiliza do silêncio para amplificar a atenção e o desconforto ao que se vê na tela. Mas diferente de um silêncio absoluto, o que ouvimos é o que apelidei de um silêncio recheado, com resquícios do som ambiente, da respiração, do movimento da roupa, de forma a sugerir uma cortina de casualidade ou normalidade situacional enquanto um grande tormento preenche a cena.
Tecnicamente bem resolvido, o longa premiado em San Sebastian se aproveita também dos planos bastante fechados, uma marca comum entre os clássicos de terror, técnica que corrobora para o estreitamento do suspense e da sensação de ameaça iminente, uma vez que a câmera tira do espectador a capacidade de acompanhar a cena em seu contexto espacial, linguagem esta que é aproveitada em “As Bestas” e funciona.
O filme segue em circuito de festivais e chega aos cinemas brasileiros em 2023.
Texto publicado em www.planetatela.com.br
#festivaldorio2022

